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'Com VR não há mais espectadores. Só participantes ativos'
Eu não sou supersticioso mas meu aniversário este ano caiu excepcionalmente na sexta-feira 13 e coincidiu com minha saída dos estúdios Prologue Films e Prologue Immersive, onde trabalhei nos últimos sete meses aqui em Los Angeles.
Vim para trabalhar com Kyle Cooper, uma mente que admiro há anos. Trabalhei como diretor de criação em algumas de suas novas aberturas e pitches (Star Trek, Mother!, Jack Ryan, Pacific Rim 2 etc) e, no processo, descobri a Realidade Virtual trabalhando simultaneamente na empresa de sua esposa Kim Cooper. Foi ao fazer VR que percebi que é impossível envolver completamente um espectador em uma 'suspensão temporária da descrença' por meio de um comercial de trinta ou um curta-metragem. Ao menos, muito difícil. Também descobri que, por mais de uma década, é isso que venho tentando fazer com minhas próprias animações e filmes. VR é diferente. Basta dizer que em VR alguém pode estar realmente dentro do meu trabalho. Não só isso: o espectador assume um papel ativo. No festival de arte Burningman, diz-se que não há espectadores, mas participantes ativos. Ninguém observa o espetáculo da vida, mas todos estão dentro dele. Enquanto imersos em VR, materiais, texturas, espaços tridimensionais, formas, seres, dinâmicas, comportamentos, cores e tipografia tornam-se âncoras mentais e guias no mar do desconhecido. Uma ponte entre o subconsciente e o consciente.
Com estas conclusões, procurei descobrir o que as pessoas estavam fazendo com essa tecnologia e encontrei uma variedade de projetos inspiradores: médicos tratando com êxito veteranos de guerra traumatizados, uma interpretação visual abstrata das coisas ditas pela voz de um homem cego descrevendo sua visão do mundo, uma plataforma onde você pode dançar com flamingos e outras espécies ameaçadas de extinção, e as inspiradoras conferências TED de Chris Milk sobre VR. Havia visto seu trabalho com o programador e ex-Diretor de Criação do Google Idea Lab Aaron Koblin pela primeira vez no vídeo de música multimídia do Arcade Fire "The Wilderness Downtown" - uma dessas misturas raras de tecnologia de ponta com um alto teor emotivo. Eu já era fã de Chris porque o tinha visto falar em um festival de design e tecnologia em Lisboa, há mais de uma década. Foi nessa semana que Chris conheceu Aaron, seu atual parceiro na empresa de realidade virtual Within. Em um café, em Lisboa, eles se encontraram e criaram um primeiro projeto em conjunto, o “Johnny Cash Project”. Eu estava nesta conferência porque o dono de um estúdio em Londres, chamado Hi-Res, queria me levar para lá como Diretor de Criação. Ele foi o moderador de um painel que incluiu Chris Milk, Aaron Koblin e Kyle Cooper, entre outros. Neste painel, assisti às pessoas que seriam incrivelmente relevantes na minha vida profissional mais de uma década depois.
O Chris e o Aaron algumas semanas atrás me chamaram para conversar na Within. O Chris me disse que não estava procurando por uma pessoa como eu até ele ver o meu trabalho e me convidou para ser seu Creative Partner. Eu assinei com eles e comemoramos juntos na experiência "Life Of Us", uma colaboração entre Within e Pharrell Williams, onde dois jogadores se transformam em diversas criaturas enquanto testemunham estágios da evolução terrestre. Uma bela maneira de encerrar uma reunião.
Eu me considero sortudo por ter tido acesso à tantas grandes mentes durante minha vida profissional, mas foi na sexta-feira 13 que percebi que não vou trabalhar mais no que estou chamando de vídeo de superfície plana, e, de agora em diante, farei experiências imersivas com todo o meu tempo disponível com as pessoas que considero pioneiras e estão na frente da linha divisória que irá definir o que essa nova tecnologia nos trará nas águas não distantes e inexploradas do futuro. Mas eu não sou supersticioso. Bem, talvez um pouco.
Marcelo Garcia, diretor de criação na Within, em Los Angeles