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O Espaço é Seu

Corona, quarentena, vitamina D e o que você tem a ver com isso?

17.03.20

It's show time ou como diria Feuerbach - "...nosso tempo prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser". De personagem fóbico e caricato passei a profeta do apocalipse. Aqueles que diziam que eu estava inflacionando a epidemia, digo pandemia, mudaram o texto. "Que boca, hein?", "Nossa, a coisa ficou feia mesmo", "Não adianta, continuo achando que é golpe", e a melhor de todas: "Tá feliz agora?".

Como estar feliz diante do quadro atual? Seria no mínimo idiota fazer a dancinha do "eu te disse". A pior forma de covardia é negar o acesso ao conhecimento ou manipulá-lo para benefício próprio. Sinto que muitos ainda não dimensionaram o que de fato está acontecendo, mas viraram a chave: hora do Corona. Virou trending topic. Fomos inundados por "celebridades" ou ilustres desconhecidos dando dicas e pseudo aulas de como se prevenir, do que fazer etc. As hashtags quarentena, fiqueemcasa, fiqueemcasaprasalvarvidas, ficaemcasaporra - pipocaram. Agora que todos parecem preocupados posso me preocupar também. Agora que é in e o carnaval já passou eu posso colocar minha outra máscara. Apesar de me parecer mais com uma mimetização do que com conscientização, aplaudo. Temos que começar por algum lugar.

Sinto que um dos sintomas da sociedade brasileira é esperar o exemplo para se autorizar a fazer. O lema de São Paulo, Non ducor duco ("não sou conduzido, conduzo"), não vingou aqui. Outro sintoma é minimizar o que é penoso, difícil e se refugiar na ilusão de que se é inatingível ou, o mais alarmante, acreditar que tudo vai se resolver sem nossa intervenção e que ela não faria muita diferença. Ficar falando de doença, situações distópicas e pandemia não é assunto agradável. Nada mais natural escolhermos o caminho "me engana que eu gosto". Afinal, não passamos a ter informações sobre o vírus há duas semanas, ele não veio ao mundo no começo de março, mas é o que parece.

Construímos uma casa de palha, agora vamos ter que reforçá-la, até porque possivelmente passaremos um tempo considerável dentro dela. E o isolamento que tantos temem, vem sendo ensaiado. Quantas famílias não dividem a mesa do almoço sem tirar os olhos do celular? Quantos jovens não preferem passar o dia jogando sozinhos do que no coletivo?

O confinamento pode trazer muitas mazelas, sim, pode ser doloroso vivenciar a intimidade. Por outro lado, esse recolhimento também pode ser positivo, afinal, nada como fazer falta para se fazer presente. E essa interação virtual que nos liga, pode ser testada em larga escala. Eu mesma testei e na minha pequena enquete só 6% dos meus conhecidos acham que quarentena é uma bobagem. Porém, como diria Debord: "o espetáculo reúne o separado, mas o reúne como separado". Quem garante que outros 94% vão respeitar as novas regras do jogo? Entre falar e fazer existe um mundo, por isso não basta replicar é preciso compreender. Sem entendimento, os assintomáticos podem achar que têm o passe livre, mas estarão transmitindo e sobrecarregando o sistema de saúde.

Mesmo separados, temos a rara oportunidade de mostrar que podemos nos unir. Logo, entre mil posts e uma atitude consciente, fique com a última.

Jaqueline Vargas, roteirista e escritora, autora de Sessão de Terapia

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