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Empoderamento feminino é job filé? (Mariana Albuquerque)
Há 5 anos, as criativas que estavam começando em agência só faziam o arroz com feijão. Post, facebook ads, google ads, textinho com caracteres contados, campanha de varejo (e olhe lá). O filé mesmo, filme de carro de meio milhão, raramente ia para uma criativa. Num mundo onde os filmes de carro viraram paisagem, e em que causas sociais têm abocanhado Grand Prix, o filé já não é mais o mesmo.
O novo filé hoje é o job de empoderamento feminino. É a oportunidade que todo criativo quer para dar aquela voadora de dois pés na sociedade, ver o trabalho chegar ao WhatsApp do seu tio, ser falado no Jornal Nacional, no Fantástico e, quem sabe, até subir no palco do Palais.
Então você - mulher criativa - é escolhida para participar do trabalho. Afinal, tem que ter uma mina, né? Na sala de brainstorm sentam você, a sua dupla e aquela dupla que sempre pega o job filé. Por mais que as ideias tenham sido filtradas por mulheres no brainstorm, quem dá a palavra final é o ECD ou o CCO. No masculino mesmo, porque a chance de ser uma mulher nesses cargos no Brasil é muito pequena (só 2%).
Provavelmente o CCO, aquele mesmo que passou o filé para você, espera ganhar um Leão com esse trabalho. É do jogo. Vai ser bom para ele, vai ser bom para você. Só que eu cansei de ver minhas colegas silenciadas em trabalhos de empoderamento pelos próprios diretores. O conceito final é deles, o ângulo da ideia é deles, as decisões de produção são deles. Pela lógica, faz sentido, porque é o caminho que eles já conhecem e sabem que funciona para prêmio. Não é por mal. É porque encaram esse trabalho como qualquer outro job de prêmio.
É claro que toda criativa quer ganhar Leão com empoderamento feminino, mas não a todo custo. Já vi até criativas que tiraram campanhas de empoderamento das suas pastas porque não concordavam com o rumo que tomou. Enquanto empoderamento feminino é visto como filé para os homens, pra gente é uma questão pessoal. E a gente quer falar direito, a gente quer cutucar mesmo, porque tem prazer em ver o nosso ponto de vista na rede nacional (ou internacional). É mais do que um job. É sobre a responsabilidade de finalmente poder falar para o mundo o que estava engasgado há tanto tempo. E não errar, porque a gente sabe que o risco de errar é enorme.
Colocar a criativa na ficha só para ter "uma mina" não resolve. Em job de empoderamento, a palavra final tem que ser das mulheres. Se na sua agência não tem mulher líder ainda, ouça as suas criativas, consulte suas criativas. Todo mundo é bem-vindo na sala de brainstorm, mas as criativas precisam estar 100% de acordo com a ideia, e dê espaço para questionarem as decisões que se sentirem desconfortáveis.
Já passou da hora das criativas sentarem à mesa e sentirem que o filé lá no meio do arroz e feijão tem gosto de verdade. E que não é só mais um "impossible burger".
Mariana Albuquerque, direct from Ireland