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Não quero falar sobre inclusão e diversidade (Thatiane Almeida)
Sou uma pessoa falante. Língua solta mesmo, falo pelos cotovelos e, se deixar, qualquer papo descomprometido vira uma mesa redonda. Eis que nessas mesas redondas da vida descobri que sinto um fascínio gigante pela arte de comunicar, conectar pessoas com assuntos.
Felizmente, falar, conectar pontos e explanar ideias nunca foram dificuldades para mim. Na minha profissão de cineasta e diretora de cena, eu preciso me comunicar no processo de trabalho e depois fazer com que o trabalho se comunique bem com o público. E acredito que, por isso, cada vez tenho tido mais oportunidades de ser "a oradora da turma", fazer palestras, escrever textos, dar entrevistas. Todas essas coisas que me fazem sentir reconhecida e feliz.
Dito tudo isso, vamos ao assunto que me trouxe aqui: eu não quero falar sobre inclusão e diversidade. Não me refiro a hoje ou essa semana especifica. Eu só não quero mesmo. Vou explicar os motivos, mas antes gostaria de levantar alguns questionamentos: por que me convidam tanto a falar - e trabalhar - em torno desse tema, sobretudo no universo publicitário? Por que acham que pessoas com características parecidas com as minhas gostam ou são especialistas nesses assuntos?
Técnicas de criatividade, multilinguagens artísticas, pesquisa acerca de culturas emergentes. Esses são exemplos de assuntos que me motivam, emocionam e que quero compartilhar com o mundo. Mas boa parte do mercado ainda insiste em me colocar numa caixinha que diz que até posso ganhar um papel no game, desde que esse papel seja de “a representante das minorias”. E como boa representante, estando nessa caixa eu preciso saber e querer falar sobre racismo, machismo, diversidade, representatividade e por aí vai. Talvez eu ainda ganhe mais destaque se eu contar histórias de injustiça acompanhadas de falas impactantes, provocativas ou até raivosas. A questão é que não quero estar nessa caixa.
Tenho plena consciência de que há muita importância e urgência nessas pautas, mas além de saber que há pessoas com mais embasamento técnico do que eu para falar sobre isso, meu "eu artista", com qualidades únicas, e às vezes, incomuns, prefere explorar outras coisas. Todo mundo deveria ter o direito de escolher sobre o que vai comunicar, são escolhas que nos tornam seres humanos. E ter poder de escolha é o que permite que exploremos todo o nosso potencial. Todo mundo sai ganhando.
Essa geração vive um momento nunca visto antes. Há cada vez mais pessoas diversas, múltiplas e talentosas conquistando espaços no mercado e essas conquistas são gigantes e fruto de muita luta. Por isso é importante que esses espaços sejam sempre de expansão e nunca de limitação. Para que nosso trabalho, aspirações e pautas sejam definidas por nós e não por outres.
Por ironia ou não, o tema desse texto se tornou aquele sobre o qual eu mesma disse que não gostaria mais de falar, mas decidi abrir uma exceção para tentar possibilitar que num futuro próximo, outras pessoas possam adentrar essa roda sem precisar se preocupar em dizer o que eu disse aqui. Conto com vocês.
Thatiane Almeida, diretora de cena da Magma