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O Espaço é Seu

/imagine... (Erico Braga)

05.10.22

Em uma bela manhã de terça-feira, chego à agência e, como de costume, vou cumprimentando a galera que está por lá. E é nessa hora que uma dupla querida me apresenta aquela que pode ser a grande revolução da direção de arte no futuro: um tal software chamado Midjourney. Nele, você digita "/imagine" e algumas palavras que venham à sua cabeça na hora e, por meio de inteligência artificial, são geradas imagens incríveis, que parecem ter saído de um episódio de "Love, Death and Robots", da Netflix.

Primeiro, estranhei. Depois achei que o tal software puxava e colava umas “refs” de outros artistas digitais. Foi usando um pouco mais o Midjourney que entendi que era isso mesmo: a I.A. realmente produzia as imagens e, pasmem, com qualidade.

Nesse momento, confesso que torci o nariz. Pensei na clássica frase de um criativo com o meu tempo de estrada: “isso é roubar no jogo”. Mas o tempo foi passando e meu feed foi sendo “flodado” de posts com imagens do Midjourney. Comecei a ficar intrigado com algumas pessoas postando seus feitos imagéticos. Alguns dando crédito ao software, outros nem tanto.

Até que, na semana passada, surgiu no meu Instagram um post do Stefan Sagmeister em que o designer conta sobre um rapaz da Índia que mandou para ele um trabalho com criaturas marinhas feitas com materiais plásticos (que tinha a maior pinta de ter sido feito no Midjourney). O próprio Stefan, de maneira super educada, disse ao rapaz que o trabalho era realmente lindo, mas que era melhor ele evitar se aproximar tanto do “look Midjourney. Mas não ficou claro se o rapaz tinha usado ou não o software.

Foi aí que o dilema autoral ficou mais latente para mim. Afinal, quem faz a arte? A I.A. ou a pessoa que faz a conexão das palavras certas para que a arte fique incrível? Será que é tipo o dilema da galinha e do ovo?

Pensando um pouco sobre isso, decidi escrever este artigo. Acho que ferramentas como essa podem ser de extrema relevância para o futuro da direção de arte.

Se o advento das ferramentas de edição de imagem e vídeo também trouxeram uma quebra de paradigma enorme em nosso mercado, por que a I.A. não poderia fazer o mesmo?

Logo me veio à cabeça a palavra do momento: “collab”. As parcerias entre Gucci e Adidas e Nike e Ben & Jerry’s são, por exemplo, sucesso de público e crítica. Então, por que uma collab” entre um criativo e uma Inteligência Artificial não poderia ser o mesmo e, ainda, ser algo original?

Lá quando eu estava na faculdade de comunicação, aprendi nas aulas de criação que as ideias podem vir de conexões entre imagens ou palavras diferentes que giram em volta de um produto ou serviço. Até hoje, ainda me pego listando coisas que podem se juntar a outras para virar algo inusitado para resolver um briefing. Se você parar para pensar, o Midjourney (ou outras plataformas parecidas como Dall-e 2 e Stable Diffusion) funcionam de forma similar. Elas juntam palavras-chave e, a partir delas, formam uma imagem. E essas imagens são uma collab” do criativo com a máquina. E eu acho isso muito interessante.

Imagina um comercial feito por Spike Jonze em “collab” com uma Inteligência Artificial? Aposto que o resultado seria muito legal! E, ainda, celebrado por todos.

Imagina um anuário do Clube de Criação feito pelos principais diretores de arte do mercado em “collab” com uma Inteligência Artificial?

/Imagina...

Enfim, ainda acho que nada substitui a criatividade humana e o talento presente no craft de nossos trabalhos. Mas também acho que temos que estar prontos e de cabeça aberta para essas novas ferramentas, descobrindo o melhor jeito de usá-las para, no final, não sermos usados por elas.

E essa última frase é claramente de alguém que tá assistindo demais o "Black Mirror" ;).

Erico Braga, diretor de criação executivo da Africa

Leia anterior de O Espaço é Seu, "Visão além da logo", por Fernanda Menegotto, aqui.

O Espaço é Seu

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