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Existe paixão sim (Renata Sayão)
Cheguei agora de dois dias intensos no Festival do Clube Criação e de encontros que aqueceram o meu coração muito mais do que a sensação térmica de 40 graus nesse final de semana em São Paulo.
E fiquei pensando numa frase, dita durante um dos painéis, questionando a turma sobre a paixão pela propaganda e o meu sentimento sobre isso. O que me fez lembrar de uma conversa que tive há uns 20 anos com a Carol Boccia, na Almap. Uma vez ela me chamou: 'vem trabalhar no atendimento. É a sua cara, mais negócios, tem onde crescer, mais bacana'. E eu, na época, pensei: 'vou insistir um pouco mais nesse rock and roll de produção'. (Vale lembrar que naquela época a Almap só tinha duplas maravilhosas: Renato Fernandez e Sarkis, Sophie deusa e Beto. Depois, Linneu, Dulcídio e Cesinha, Prosperi, Simões, Marcão, Jahara, Kawa, Wilsinho, Victorino. Essa turminha assim bem básica – que produzir qualquer peça era uma aula de referência e história boa. Era com eles que eu trabalhava todo dia).
E, saindo do Festival do Clube, hoje, lembrei dessa conversa que aconteceu e tive certeza que escolhi o lado que eu amo. Fiquei relembrando quantas pessoas, entre criativos, produtores executivos, fotógrafos, diretores e músicos, eu vi esse final de semana. E a sensação é "pqp, quanta gente f*da" - quem me conhece bem sabe que não falo muito palavrão, mas é tanta gente talentosa que dá orgulho de conhecer, conviver, conversar... Acostumamos com isso porque é nosso dia a dia, mas a sensação depois de mais de 20 anos de agência ainda é, "que f*da".
E não estou falando isso porque fui dar 'oi' para o Porchat e para o Kond, não. É estar no meio do Carlão, do James, do Klajmic, da Ivy, da Luiza, do Edu, da Ale, do Otávio, do Dulça, do Faria, do Cris, do Cisma, dos Manis, do JC, da Joca e de uma galera que - não vou conseguir citar todo mundo aqui - mas uma turma que tem paixão no que faz, tem referência, tem técnica, tem estudo, tem obsessão (né, Dulcidio? rs), tem estrelinha na testa (né, Rizerio?). Meu sonho era que cada cliente soubesse quanto trabalho, quanto estudo, quanto capim rolou, até aquele diretor estar ali contando um storyboard.
Mas a resposta de 20 anos atrás continua a mesma. Ainda quero continuar aqui, assistindo de camarote essa galera brilhar, seja na Amazon Prime (vai, Fabinho) ou nos nossos 15” do vertical no digital. Ainda quero estar pertinho, porque estar perto dessa genialidade deixa a vida mais interessante, mais cheia de referências, mais rica. E me fez lembrar quando eu ia no estúdio do Miro acompanhar uma foto e o assistia trabalhando. O que me dava a certeza de que ele estava pintando um quadro da renascença. Era como assistir um Da Vinci pintando, e eu me via ali como testemunha de uma criação genial. Não conseguia encarar isso como trabalho - era um prazer absoluto.
Quando eu vejo a galera no Clube, a turma de estudantes ou um grupo questionando a profissão, meu conselho seria: aproximem-se dessa galera, sintam um pouquinho desse prazer de conviver com nossos outliers, com nossos criativos e realizadores, por que eles têm um pezinho na genialidade. Bebam dessa fonte. Porque é um privilégio enorme estar nesse meio. É arte movimentando muitas indústrias, estamos criando tendências e derrubando preconceitos. Aproximem-se porque, se derem sorte como eu, daqui há um tempo vocês também vão poder ter a honra de chamar muitos desses incríveis profissionais de amigos.
PS: Dedico esse texto ao grande Celsum, super produtor que foi homenageado no Festival do Clube e que também tinha essa paixão pelo nosso ofício #BRILHA CELSUM.
Renata Sayão, head de produção da Publicis Brasil
Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.