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O Espaço é Seu

O atendimento por trás dos prêmios (Jayme Neto)

28.09.23

Essa semana chegaram nossos três Leões, eles foram anunciados lá atrás, mas ver as estátuas na prateleira, brilhando, traz uma outra sensação. Também essa semana saíram os prêmios do Clube de Criação, levamos quatro.

O Clube é "de criação", o festival de Cannes tem criatividade no nome, somados aos ElOjoAD&D, e prêmios afins, eles mudam a vida de um criativo, catapultam carreiras, fazem chover propostas e salários decolarem, mas cada vez que eu vejo um projeto f*da ser premiado, os primeiros nomes que eu procuro na ficha são os dos profissionais de atendimento.

Muito tempo atrás, quando "young" ainda podia ser usado para se referir a mim, eu perdi um Young Lions, depois fui saber a razão. Na banca, eu disse que acreditava que o papel de um bom atendimento é nos bastidores, e que naquele projeto em questão, a maior parte dos envolvidos, não tinha a menor ideia do que eu tinha feito, e por mim estava tudo bem. Os nomões que estavam me entrevistando não gostaram de ouvir, mas eu sigo acreditando nisso.

Eu trabalho com isso já tem quase 14 anos e cada vez tenho mais certeza de que o ofício do atendimento é o soft power. Que o trabalho de negócios e projetos não se faz no palco, se faz no one on one. Isso porque essas grandes ideias, que recebem chuvas de prêmios, geralmente envolvem dezenas de pessoas, são como grandes cruzeiros.

Eu não tenho dúvidas de que é mais entertaining ver uma lancha rápida fazendo manobras, mas navio que faz drift afunda. Se o comandante fez tudo certo, o navio fez inúmeras curvas, você não percebeu nenhuma, e chegou ao seu destino.

"0.0 Barreiras", que levou dois Leões em Cannes e Ouro no Clube, é um bom exemplo disso. Ela chegou na mesa do nosso time em novembro. Ótima ideia, abrir pedágios com cerveja sem álcool. A ideia não veio redonda, como quase nenhuma vem, o que não tem problema nenhum nem desabona o time criativo, o papel deles é mirar na lua mesmo, e o nosso é chegar o mais perto possível.

Ajustamos a ideia, como não daria para fazer no país todo, dividimos em duas execuções complementares. Uma ação nos pedágios e uma promoção em parceria com o Sem Parar.

O problema é que nada disso existia para ser comprado. E daí foram longos três meses de negociação. Para a ação nos pedágios nossa aposta foi a CCR. Foram dezenas de reuniões, mesmo. Tivemos que pensar em operação, na legislação que rege as concessões públicas, desenvolver um contrato do zero, entender como pagar por cada carro que passasse, já que o caixa tinha que estar fechado no final do dia, cadastrar produtora, fazer o treinamento de segurança na praça de pedágio, encontrar base de operação para os times no meio das estradas, e isso nem arranha a superfície da complexidade de colocar uma operação dessas de pé.

Para a promoção com o Sem Parar, outra lista infindável de desafios, fazer a tag do zero, importar da China, testes de impressão, criar uma forma de cadastro, já que eles nunca comercializaram uma tag com R$ 1 mil de crédito, pensar na embalagem, como colocar um hardware tão delicado num pack de cerveja, produzir esse pack do zero.

Para aterrissar melhor, as dificuldades que a gente encontra em colocar na rua uma ideia dessas, eu queria contar para vocês um bastidor. O contrato final com a CCR foi assinado às oito da noite do dia anterior a ação. Onze horas antes do primeiro carro passar com uma cerveja e, bip, abrir a cancela. Quer ter mais frio na barriga? As estradas já estavam tomadas de outdoors anunciando a ação.

Sabe quanto disso os clientes ou o restante da agência ficou sabendo? Zero. Os clientes, porque eles têm uma marca para cuidar e eu sei que a interação com a agência é uma gota no mar de coisas que eles têm para fazer. O restante da agência porque cada área precisa estar com a cabeça livre para tirar o melhor da sua disciplina, e é essa ignorância despreocupada, no melhor sentido da palavra, que permite que boas ideias continuem chegando nas mesas do nosso time.

Se você chegou até o final, queria te contar que escrevi tudo isso para dizer duas coisas, seja você agência ou cliente. A primeira é que se você não sabe ao certo o que seu atendimento faz, ele está fazendo um bom trabalho. E a segunda é que na próxima vez que você se deparar com uma ficha, eu acho que você deveria dar um scroll a mais e chegar nos nomes do atendimento. Não somos as estrelas das premiações, mas eles também são muito nossos, afinal de contas, uma ideia se não for para a rua, foi só um desejo. 

Jayme Neto, Business Director de Le Pub Brasil

Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.

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