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O dia em que o Olivetto quase matou o Ercílio (Rafael Simi)
O meu amigo e ídolo Ercílio Tranjan não é muito dado a se manifestar em canais digitais, então conto essa história por ele.
Há muitos anos, um hotel do Rio era a sede de um badalado festival de publicidade. Num dos júris, as discussões se alongaram até tarde, fazendo com que alguns solicitassem ao, digamos, serviço de quarto uns sanduíches para aplacar a fome. Ercílio comia calmamente o seu, quando Olivetto soltou uma de suas tiradas engraçadas. Todos morreram de rir e Ercílio, coitado, quase morreu de verdade.
Ele engasgou feio. Não foi daqueles engasgos de tossir e pronto. De fato, ele começou a ficar sufocado e se debatia, pedindo ajuda. Até que alguma santa alma presente no hotel realizou a manobra de Heimlich, que consiste em basicamente expelir o pedaço de comida da garganta da pessoa com movimentos vigorosos no diafragma. Em outras palavras: deu umas porradas fortes na barriga do meu querido Tranjan até a comida voar longe.
Ercílio, felizmente, se recuperou bem e continuou amigo do seu quase algoz pela vida inteira. Recentemente, ambos se abraçaram em lançamentos de seus respectivos livros. No do Olivetto (um dos muitos que ele escreveu), me impressionei ao perceber como a fila de autógrafos era amplamente ocupada por gente que não vinha da publicidade: muitos jornalistas, músicos, escritores, cineastas, atores e atrizes. Era um alívio neste mundinho que só fala de si e pergunta "como é que tá lá?". Certamente, foi isso que o transformou numa lenda da comunicação: a paixão pela cultura brasileira e o gosto por cultivar amizades interessantes de diversas áreas.
Olivetto dizia que Ercílio tinha "o melhor senso de MAU-HUMOR da publicidade brasileira". Era uma meia verdade. Ercílio tem seus rompantes ranzinzas, mas é um doce de pessoa. E capaz de dar longas gargalhadas, como a que quase o matou.
Mas tendo sido um grande redator, Washington Olivetto era, obviamente, um sensacional frasista. Ao se negar a falar sobre o sequestro que sofreu, por exemplo, dizia que evitava o assunto por não se considerar uma autoridade: "Tenho décadas de experiência na propaganda. Em sequestro, foram apenas 53 dias". Se alguém era capaz de fazer graça até do momento mais difícil que viveu na vida, jamais pouparia o Ercílio de sua ironia. E tudo bem, porque ele não perdeu a piada e nem o amigo.
Rafael Simi, redator da agência Outpromo
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