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Para o Washington (Carlos Righi)
O ano, dois mil e um. Presidente recém-eleito do Clube de Criação de São Paulo, uma das minhas primeiras tarefas era escolher quem seria o próximo homenageado com o prêmio mais importante da publicidade brasileira, o Hall da Fama.
Havia dois nomes óbvios e urgentes: Ercílio Tranjan e Washington Olivetto. Na dúvida, escolhi os dois. E melhor: fiz o Ercílio escrever sobre o Washington. E o Washington escrever sobre o Ercílio. Bingo. O ano foi passando, recebi as biografias, gravamos os troféus, preparamos a festa, mas...
No fim do mesmo ano o Washington foi sequestrado. Foram 53 dias de inferno, angústia, orações. Felizmente saiu do cativeiro vivo, inteiro e saudável. Em fevereiro do ano seguinte, pouco depois de voltar ao trabalho, ele me liga: "Righi, desculpa por não ter ido na festa do Clube. Eu sei. Não consegui, mas a Patrícia recebeu seu recado. Escuta, você guardou a minha Estrela do Hall da Fama? Tá aí? Então me faz um favor. Traz ela aqui pra mim? Te espero na agência."
Poucos dias depois lá estava eu, Estrela debaixo do braço, entrando pela W/Brasil. Washington me recebeu com a efusividade de sempre, puxou-me pela mão e anunciou para a criação em voz alta: "Pessoal. Este aqui é o presidente do Clube de Criação de São Paulo. Olha o que ele trouxe pra mim: o prêmio mais importante da minha vida, o Hall da Fama."
Aplausos. De volta à sua mesa, um litro de uísque e um balde de gelo esperavam por nós. E assim fiquei por lá pelo tempo que duraram aquelas pedras e a garrafa.
As pessoas foram indo embora, as luzes foram se apagando, e então o Golden Boy, a Letra, o gênio da Propaganda Brasileira foi se mostrando para mim um ser humano ainda mais f*da. Ele se abriu: "Vou contar, espero que pela última vez, o que aqueles vagabundos fizeram comigo."
Foi o relato mais impressionante que eu já ouvi. Um thriller de horror, violento, grotesco, assustador. Ele falou sobre o dia do sequestro, sobre o cativeiro, sobre sua resistência, sobre seu desespero e sobre sua revolta. E por fim sobre sua esperança e sua libertação. Choramos juntos, como só grandes bêbados choram.
Vinte e três anos depois, exatamente em um evento do Clube de Criação, chega-me sua última notícia. Que m*rda. Já é a segunda festa que ele me estraga.
Carlos Righi, sócio e produtor executivo da Damasco Filmes
Leia o texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.