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A relação entre música e negritude
A música negra sempre foi um espelho que reflete luta e resistência. Desde os tempos sofridos de escravidão, quando os pretos expressavam saudade e desespero com canções que ecoavam nas plantações, até os tempos mais atuais, através de artistas célebres que fizeram e continuam fazendo história.
Tivemos Billie Holiday, com sua voz aveludada, cantando "Strange Fruit”, revelando o horror escondido sob o sol. Ou o ilustríssimo Stevie Wonder, que carregava em suas composições uma mensagem de responsabilidade social.
Na década de 1960, a música negra tornou-se um hino para os que lutavam por direitos. O soul e o funk dançaram nas ruas, enchendo os corações de esperança. O hip-hop, com sua batida pulsante, sempre foi um meio para expressar a realidade crua. No Brasil, as canções de Milton Nascimento são um símbolo de resistência e esperança para muitos.
Artistas contemporâneos, como Racionais MC's, Kendrick Lamar e Lauryn Hill continuam essa jornada, usando suas vozes como armas, abordando questões de racismo e desigualdade com uma intensidade que ressoa em cada verso.
Cada nota é um manifesto, cada letra um grito por justiça, entrelaçando os sonhos de muitos que anseiam por um amanhã mais justo.
A música me encontrou no berço. Nasci em uma família totalmente envolvida com a música. Meus avós e meu pai eram maestros. Minha mãe e meus irmãos mais velhos, multi-instrumentistas. Então, não havia outra opção para o caçula a não ser mergulhar naquele oceano musical, que era meu habitat natural.
Como um garoto preto crescido na periferia da zona norte de São Paulo, descobri na música não apenas um refúgio terapêutico, mas também algo raro em meu entorno: a capacidade de sonhar. Sonhar com uma carreira na música não me ajudou a escapar de muitas dificuldades, mas sempre foi combustível para superar cada uma delas. Hoje, sou um produtor musical com uma carreira consolidada ao longo de 10 anos. Meu sonho de menino se tornou realidade.
Sempre quis produzir música para publicidade. E, após fazer produções para várias campanhas impactantes, conquistei alguns dos prêmios mais relevantes do mundo, como Cannes Lions, Clio Awards e D&AD.
Sinto que preciso agradecer à música por ter me escolhido. Tudo o que vivi e vi de triste se transformou em fonte de inspiração para minhas composições. E não só isso, mas o que vivi e vi de feliz também.
Aos 32 anos, sinto-me realizado por ser parte de uma das maiores produtoras de áudio do mundo, a Jamute, e por exercer minha arte em trabalhos publicitários globais.
A música me trouxe até aqui, me deu propósito, uma carreira, a satisfação de realizar sonhos com a minha família e a missão de inspirar meus filhos a nunca desistirem de seus sonhos também.
A música negra não é um gênero, é uma expressão viva da história de dor, mas também de superação. Ela carregou, e ainda carrega, as vozes de gerações que enfrentam desafios, mas que têm transformado sua luta em arte. Seja nas plantações ou nas grandes cidades, desde os spirituals até o hip-hop contemporâneo. Cada batida e melodia conta uma história que transcende o tempo.
Para mim, a música se tornou um farol, guiando meus sonhos e me proporcionando uma carreira que sou grato por ter alcançado.
Assim, a jornada da música negra continua a inspirar não apenas os que criam, mas também os que ouvem, lembrando-nos sempre de que a arte tem o poder de transformar vidas, e que mesmo nas maiores dificuldades há espaço não só para sonhar, mas para realizar.
Alex Freitas (o Leck), produtor musical sênior da Jamute
Leia o texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.