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IA, Web Summit, Bienal de Veneza e as jornadas invasoras
Correr atrás do que as novas tecnologias podem oferecer é algo intrínseco ao ser humano, uma característica que transcende milênios, mas que ainda provoca ações e reações. Pense na inteligência artificial (IA). Esse é um dos principais temas no Web Summit de Lisboa, que ocorre agora, de 11 a 14 de novembro.
Veja alguns dos assuntos que estarão em pauta:
- Is AI the answer or the problem?
- The internet sucks: where CX is headed next
- Everything everywhere all at once: the future of commerce & creativity
Esses são apenas três dos mais de mil painéis e palestras que acontecem no evento, muitos simultaneamente. Mas, quero falar de um outro grande evento que traz um olhar humano, ético e altamente questionador sobre novas tecnologias e seus impactos sociais: a Bienal de Veneza. Decidi visitá-la porque o tema “Foreign Everywhere” me chamou atenção. A Bienal nos lembra que, historicamente, deixamos para trás o que há de mais importante: nossa humanidade. São mais de 300 artistas de 80 países que expressam seu estranhamento em relação a tudo o que nos trouxe até aqui: poder, políticas, tecnologias.
Sabe o que mais me choca? Vários Pavilhões Nacionais trazem representações que simplesmente afirmam: não me identifico com a cultura do meu país. Por quê? Porque, historicamente, foi uma jornada invasora que ignorou a cultura local. É uma temática extremamente atual.
O Pavilhão do Brasil, por exemplo, foi “ocupado” por povos indígenas. Há uma obra que exibe silhuetas feitas de cipós, das quais apenas uma está coberta por um manto que representa um dos muitos povos originários brasileiros. As outras estão “nuas”. Essa obra é um manifesto que pede a devolução dos mantos culturais que foram roubados e hoje integram coleções de museus ao redor do mundo.
Um desses museus aceitou a cobrança e já devolveu um dos mantos. Pergunta: Você se vê representado/representada pelo nosso pavilhão? Não? Mas isso faz parte da sua história. E é exatamente essa perda de conexão que nos leva a sermos estrangeiros em toda parte. E sabe quem trouxe essa discussão para o mundo (da arte e da vida)? Foi o brasileiro André Pedrosa. Sim, pela primeira vez, em mais de 100 anos de história, a Bienal de Veneza tem um curador latino (o que já rompe com a noção de poder exclusivo do Norte global).
A IA pode se inspirar na arte e ser uma força que nos reconecte conosco mesmos (regional e globalmente). Pode ser usada de forma ética para estabelecer relações baseadas em dados seguros, trazendo conhecimento libertador para todos. Ou não. Esse “ou” é justamente a questão que movimentará Lisboa.
E veja: muitas marcas, agências e políticas governamentais ainda nem se adaptaram plenamente ao digital. Existem várias tecnologias, como carros autônomos e voadores, que não estão em prática porque não há legislação adequada. Indo para o básico, muitas marcas ainda têm dificuldade em estabelecer uma relação inteligente entre o comércio online e offline, muito menos em considerar o papel humano nessa conexão.
Estamos ainda descobrindo o que esse “velho” digital pode oferecer. Imagine então que tudo isso já está mudando radicalmente e estará completamente diferente em apenas três anos.
Sim, temos de correr atrás. Mas não podemos cometer os mesmos erros que nos trouxeram até aqui. Temos de preservar o humano e conectá-lo da melhor forma com a IA.
E fazer dela uma ferramenta em que vamos fazer novas e grandes navegações, sem invadir, sem “tomar à força os mantos culturais dos mais fracos” (que pode ser o seu, o meu ou de todos nós que possuímos IH - Inteligência Humana).
Se eu pudesse resumir em uma palavra o que une a temática da Bienal de Veneza com o Web Summit de Lisboa seria: Ética.