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O Espaço é Seu

Afegão Médio (por Zico Farina)

22.10.14


Eu sou um afegão médio.



Provavelmente você já deve ter ouvido falar de mim em algum grupo de pesquisa ou na apresentação de uma campanha como sendo o exemplo de alguém que não entenderia algo simples.



Normalmente um redator lê um roteiro cheio de exemplos e alguém levanta a mão e diz: “Mas o afegão médio iria entender?”



Eu sou para a maioria dos profissionais de comunicação uma espécie de Homer Simpson de barba e túnica.



Sou o cara que não entende.



Na verdade, eu só não entendo eles.



Como afegão faço parte de um país com uma população que surgiu entre 3.000 e 2.000 antes de Cristo. Quer dizer, a gente já se entendia por lá enquanto aqui além de árvores e bichos não tinha muita coisa.



Meu país faz fronteira com o Paquistão ao sul e ao leste. Com o Irã ao oeste. Com o Turcomenistão, Uzbequistão e o Tadjiquistão ao norte e com a China no nordeste.



Talvez um brasileiro esclarecido jamais tenha ouvido falar nesses países que para nós, afegãos médios, são parte da nossa necessidade de aprender a se comunicar com pessoas e culturas diferentes.



Pela nossa geolocalização privilegiada, ligando o Oriente à Ásia, fomos um entreposto comercial famoso, fundamental para a Rota da Seda e também fomos palco de invasões e disputas, que teve de Alexandre o Grande a Genghis Khan.



Desconfio que grandes experts do marketing e da comunicação no Brasil conheçam apenas a nossa história recente. Como a Guerra contra a União Soviética nos anos 1980, contando com a ajuda dos Estados Unidos. E por ironia do destino, a guerra recente com os próprios americanos.



Ou talvez não conheçam.



Então, o meu pedido, como afegão médio, é que ao invés de usar o meu nome como sinônimo de pessoa inculta, de não ter capacidade de entendimento, pense bem antes.



Sei lá, sem nenhum preconceito, mas por que não um congolês médio, um somali médio, um aborígine médio, um botsuano médio? Não sabe o que é botsuano? Tudo bem, imaginei.



Eu como afegão médio entenderia, até com um certo sarcasmo.



E você, entenderia?



Por Zico Farina, diretor de criação da DM9DDB


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