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O espaço é seu

Piloto automático: OFF (por Caio Mattoso e Rodrigo Mendes)

11.02.14


Poucas indústrias conseguem reunir tanta gente inteligente, sonhadora, inquieta quanto a nossa. Não somos o tipo de profissional que topa carimbar folhas das 8h às 18h em troca de um cheque no final do mês. Entramos neste negócio para fazer as pessoas rirem, chorarem, se questionarem e, no meio de tudo isso, vender produtos e construir marcas. É exatamente por isso que os últimos anos têm sido tão duros. Nossa indústria passa por uma crise de relevância. E nada é mais incômodo para nós, profissionais de comunicação, do que conviver com a irrelevância.



Tentamos nos convencer do contrário, mas perdemos relevância com os clientes. Deixamos de ser os arquitetos. Passamos a ser a mão de obra. Estamos sentados aqui, enquanto a discussão principal acontece ali, na mesa dos adultos. É duro aceitar isso. Mas a verdade é que, salvo exceções, nossa participação na construção das marcas têm sido cada vez mais tática e menos estratégica.



Tentamos nos convencer do contrário, mas perdemos relevância com os consumidores. Os cientistas da IBM afirmam que o cérebro humano é capaz de guardar 3TB de informação. Como eles chegaram neste número? Vai saber. O ponto é: hoje, o mundo gera cerca de 2.300.000TB de informação por dia. É uma surra de novidades. As pessoas com seus míseros 3TB de HD estão cada vez mais seletivas. E diante deste cenário, em vez de produzirmos campanhas mais ácidas, mais divertidas, mais provocativas, nossos processos burocráticos andam nos levando a uma comunicação comoditizada, flat, sem sal. A máquina das agências está mais preparada para ganhar leões em Cannes do que para conquistar 1MB na cabeça das pessoas.



Não é a toa que os chororôs nos almoços da firma e a quantidade de talentos saindo para tocar ‘projetos pessoais’ atingiram número recorde nos últimos anos. “Sei lá, está tudo igual” é a resposta mais frequente à pergunta “Em que agência você gostaria de trabalhar?”



Até o começo deste ano, era difícil imaginar uma mudança neste cenário. O modelo praticado pelas maiores agências do Brasil é o mesmo de 15 anos atrás. Tudo continua funcionando por inércia.



Mas 2014 começou diferente. Há tempos não vemos tantas movimentações interessantes no mercado. Novas agências abrindo. Novas pessoas assumindo cargos de gestão. Organogramas sendo repensados. Iniciativas independentes se provando rentáveis. Reflexões e questionamentos importantes nas Colunas do CCSP. Tudo isso junto e ao mesmo tempo.



Aos céticos e pessimistas, as nossas desculpas. Mas realmente acreditamos que este é um daqueles raros momentos de virada de mesa. É hora do mercado todo, cada um na sua cadeira, desligar o piloto automático e pensar num plano. Precisamos trazer a relevância de volta.



Por Caio Mattoso e Rodrigo Mendes



Aproveite e leia também reflexões de Eduardo Lima sobre as concorrências (aqui).  De Maurício Mazzariol sobre o "digital" (aqui). E de Rynaldo Gondim sobre "os defeitos que nos tornam humanos e extraordinariamente autênticos" (aqui).



Espie também o Escaninho do Washington (aqui e aqui).



E confira reflexões de André Faria sobre o mercado publicitário, com tempero de Sidney Magal (aqui).


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