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O espaço é seu

A História Secreta dos Classificados

05.08.08

Os classificados são muito mais antigos que o próprio domingo.

Na verdade, antecederam a escrita.

Ainda na Idade da Pedra, eram feitos em rochas e paredes.

No lugar de palavras, o homem das cavernas usava figuras e, como não tinha nada para comprar, vender ou trocar, usava os classificados para xingar os outros e dar ordens a sua esposa.

Com o aparecimento da palavra, os classificados passaram a ser falados.

Na Idade Antiga, os Classificandos, homens especializados em gritar ofertas em praça pública, faziam anúncios, como: “vendo Monza 1989 AC ou troco por Biga 1234 DC”.

Para gritar as ofertas usavam o Bestofone, antepassado do megafone, construído com presas de mamute selvagem.

Com o desaparecimento natural dos Classificandos, os anúncios passaram a ser feitos em murais. Escritos em pedaços de papel, eram colocados em pontos estratégicos, geralmente no centro da cidade.

Juntando a eficácia dos Classificandos à comodidade do anúncio escrito, Torquato Capucci, um comerciante da época, passou a anunciar suas quinquilharias em pedaços de papel que pregava nas costas das pessoas sem elas perceberem.

A tática era simples. Estando no meio de uma multidão, Capucci abraçava a pessoa por trás ou esbarrava nela. Nesse momento pregava o papel nas suas costas. A duração desse anúncio era de algumas horas, o suficiente para a loja de Torquato Capucci vender tudo que fora anunciado.

Apesar de difundido, o classificado só foi elevado à categoria de entretenimento com a invenção do domingo. Com um dia inteiro para ler jornal, as pessoas usavam os classificados para passar o tempo e rir dos preços anunciados. Vender e comprar, poucos conseguiam.

Com o crescimento do número de ofertas, nos anos 30 surgiram cursos e técnicas para ajudar os leitores a encontrar os seus anúncios.

Com a facilidade de se achar anúncios, aliada ao crescimento da economia, a parte de notícias do jornal de domingo ficou reduzida a apenas um caderno, enquanto os classificados ocupavam os outros nove.

Se, no passado, eles tinham apenas a função de compra e venda, na década de 80 já existiam anúncios para tudo: achar pessoas desaparecidas, anúncios de homem procurando carro, homem procurando mulher, homem procurando homem, mulher procurando o que achasse primeiro e muitos outros.

É verdade que alguns classificados provocaram situações constrangedoras. RF, homem procurando homem, teve uma surpresa ao descobrir que HD, o homem com quem se encontraria, era na verdade Ferreira, seu chefe. Já WD, 40, homem procurando mulher, teve seu anúncio colocado por engano na seção de veículos. Acabou achando seu carro, roubado há 10 dias. Foi amor a segunda vista. Casaram-se.

Desde sua invenção, mais que um artifício prático, os classificados têm cumprido uma função social. Divertem, instruem, surpreendem, impressionam, informam.

Mas, acima de tudo, ajudam a preencher o tempo. Séculos depois do seu aparecimento, hoje a humanidade não conseguiria viver sem a distração que proporcionam. Mesmo porque quase todo domingo, se não faz mal tempo, chove.

Por Daniel Funes
Publicitário e escritor


 Comentários

Marcelo Byrro - Grande Daniel, eu adoro suas histórias secretas!!! Parabéns.


 

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