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O Espaço é Seu

O tempo nos escapa ou somos nós que o perdemos? (Fernanda Tchernobilsky)

13.12.24

Outro dia, li um post que dizia: “Do nada, você percebe que 2025 é em menos de 40 dias e a pandemia foi há 5 anos.” Essa frase ecoou na minha cabeça. Como assim cinco anos? Onde eles foram parar? Por que parece que ainda estamos presos ao ritmo frenético de 2020, só que agora somado à vida presencial?

A resposta pode estar na percepção subjetiva do tempo. De acordo com Aoife McLoughlin, professora da Universidade James Cook, na Austrália, quanto mais acelerado nosso ritmo de vida, menor nossa sensação de tempo disponível. Esse fenômeno se intensificou com a pandemia, que reformulou nossa relação com o tempo.

Durante o isolamento, o mundo pareceu parar — mas não, vivemos uma aceleração inédita, com a urgência de nos adaptarmos ao digital. Essa mistura criou um estado permanente de hiperconexão. E hoje, carregamos os reflexos desse período: agendas que transbordam compromissos presenciais e virtuais, expectativas de disponibilidade constante e a dificuldade de estabelecer limites claros.

Byung-Chul Han, filósofo contemporâneo, apontou em entrevista ao El País: “Precisamos que a informação se cale. Caso contrário, explodirá nosso cérebro. [...] A tela é uma representação pobre do mundo. Giramos em círculo ao redor de nós mesmos.

Embora essa crítica à hiperconectividade seja válida, não acredito que o caminho esteja em silenciar a informação, mas sim em transformar a maneira como a consumimos. O desafio não está na existência da informação, mas na ausência de escolhas conscientes.

Há tempos, o digital e o presencial coexistem. Mas hoje, respondemos e-mails enquanto jantamos, fazemos reuniões enquanto dirigimos e substituímos conversas presenciais por mensagens de voz de dois minutos. Embora essa flexibilidade nos permita “fazer tudo de qualquer lugar,” precisamos nos perguntar: devemos mesmo fazer tudo o tempo todo?

Estamos vivendo um paradoxo: temos o mesmo número de horas por dia, mas carregamos expectativas ilimitadas. Nunca haverá tempo suficiente.

A linha entre vida pessoal e profissional praticamente desapareceu, e muitos de nós sentimos que nunca estamos “totalmente presentes” em lugar algum. Estamos sempre em movimento, sempre conectados, mas raramente realmente atentos. A urgência constante, alimentada por agendas lotadas, tem tornado momentos de conexão significativa — seja com outras pessoas ou até com nós mesmos — cada vez mais escassos.

A verdade é que estamos correndo tanto que mal percebemos o que estamos deixando para trás. 2024 passou como um furacão, e, olhando para 2025, já sinto a necessidade de retomar o controle. Tenho três metas: deixar o celular longe da mesa de jantar, criar momentos reais de desconexão e, o mais importante, escolher com cuidado onde quero realmente estar.

Talvez não se trate de fazer as pazes com o relógio, mas de redescobrir o valor de cada momento. Em um mundo que corre, talvez seja hora de pausar — nem que seja por alguns minutos.

Fernanda Tchernobilsky, co-CEO da Pros

Leia o texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.

O Espaço é Seu

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