O Espaço é Seu

Uma lição que aprendi: tem horas que não importa o que o mundo dita. Nós temos que fazer aquilo que está "pinicando" lá dentro de nós. E, sem isso, uma parte da alma fica mais "cinzinha". Essa é a parte da criatividade. Do fluxo. Acredito que isso pertence a todos os seres humanos, não importando classe social, origem, religião.

Quando é seu e para você, a criatividade transcende o "seu precioso". No meu caso, ela refletiu positivamente (acredito eu) não só no music supervising e na produção de trilhas da Evil, mas também na forma de tomar decisões, brincar com o filho ou passear com o cachorro.

Tudo acaba se retroalimentando e servindo de inspiração.

Como disse Quincy Jones no seu livro "12 Notas Sobre Criatividade": “todos nós temos potencial criativo e merecemos concretizá-lo”. Para mim, a criatividade não concretizada é como aquele grão de ervilha no meio de 20 colchões empilhados. Ela fica tirando o sono até conseguir dar vazão.

Não é fácil, é claro. Existe uma coisa chamada vida no meio disso que acaba atrapalhando. Paradoxalmente, ela é a fonte da criatividade. Pelo menos para mim, não tem "o momento para criar". Ela pode surgir quando você está no supermercado vendo a data de validade do leite que você está comprando para sua filha (isso aconteceu comigo. Esqueci o leite e corri para o estúdio. Desculpa, Nina).

Demorei um ano e meio para compor e um ano para lançar o meu projeto – "Heal Mura" (ouça aqui). Conversei com todo mundo, ouvi todas as opiniões e... joguei tudo fora. Resolvi não lançar inúmeros singles para treinar algoritmos e manter constância, mas sim lançar um disco com 11 músicas em pleno 2025 (algo que, teoricamente, só é reservado a artistas gigantes). O disco é o formato pelo qual eu fui apresentado à música.

Uma coisa supostamente divertida que nunca mais vou fazer (da forma como fiz): fazer um disco 100% sozinho - embora a experiência tenha sido edificante.

A criatividade anda em zigue-zague. Em alguns momentos ela serve melhor à solidão, em outros momentos à coletividade. Na época em que tocava com meu irmão André Faria na Aldo the Band, isso era muito visível: muitas vezes ele pegava de onde eu tinha parado ou vice-versa. A soma das partes sempre é maior que o todo, mas no fim do dia, se não ressoar com você, não vai ressoar com ninguém.

Murilo Faria, sócio da Evil Twin