Acesso exclusivo para sócios corporativos

Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Contar verdades no audiovisual (Paschoal Samora)
Contar verdades no audiovisual: um desafio dos nossos tempos
Num tempo em que a imagem pode tudo - emocionar, manipular, transformar, enganar - o audiovisual vive um dilema constante: como contar verdades?
A verdade pode ser factual, emocional, simbólica ou tudo isso junto. E, no campo da criação audiovisual, não existe uma fórmula única. A gente inventa, documenta, interpreta. Mas tudo isso carrega escolhas - éticas, estéticas e narrativas.
Se a verdade é uma construção humana - e ela é -, o audiovisual tem um poder imenso (e também uma responsabilidade) ao moldar o modo como percebemos o mundo.
Platão falava da necessidade de sair da caverna, deixar as sombras para trás e buscar um conhecimento mais profundo. Nietzsche, por outro lado, já desconfiava das verdades absolutas e dizia que elas nascem do desejo de potência - e também de interesses.
Hoje, num mundo irremediavelmente audiovisual, somos bombardeados por camadas de realidade e simulação. E agora, com a presença da inteligência artificial em cada vez mais etapas da produção, a linha entre o que é real e o que é simulado se torna ainda mais turva.
Mas é justamente nesse cenário que o audiovisual pode exercer seu papel mais potente: investigar níveis sutis de realidade. Quando a narrativa e a imagem se entrelaçam. Quando nos abrimos para escutar diferentes vozes, acolher outras formas de ver e viver o mundo.
É aí que o realismo poético pode surgir como uma possibilidade - não como uma técnica, mas como uma postura ética e criativa. Uma forma de olhar para o mundo com empatia, atenção e escuta. De produzir narrativas que respeitem a complexidade dos acontecimentos e das pessoas. Que incluam o sonho, a memória, o inconsciente, a ancestralidade. Tudo aquilo que também é real, mas não se mede com dados.
Contar verdades, no fim das contas, é isso: tentar se aproximar do outro - e de nós mesmos. E fazer disso uma experiência compartilhada, sensível, transformadora.
Paschoal Samora, cineasta, documentarista e criador do Selo NAV, Narrativas da Verdade
Leia o texto anterior da seção o "Espaço é Seu", aqui.
Clube de Criação 50 Anos