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Em Davos, policrise. Pelo mundo, aridificação
O Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, jogou holofotes sobre uma palavra durante os dias do encontro, que se encerrou nesta sexta-feira, 20: policrise. O termo foi usado no Relatório de Riscos Globais, levantamento que chegou a sua 18ª edição e que faz um apanhado de ameaças que podemos enfrentar na próxima década. Com o cenário de recessão que se apresenta, há uma lista de desafios, mas há até também alguns retrocessos para enfrentarmos nos próximos anos.
Os autores falam em policrise, termo que significa “um aglomerado de riscos globais atuais e futuros”, que se relacionam e que, combinados, podem gerar efeitos imprevisíveis. Na lista estão inflação crescente, polarização sociopolítica, tensões geoeconômicas e mudanças climáticas.
O relatório indica que, enquanto algumas ameaças parecem novas – como a escassez de recursos naturais até 2030 –, outras dão a sensação de que voltaram no tempo, caso das crises relacionadas ao custo de vida e do temor de uma guerra nuclear.
Para a elaboração do documento (acesse aqui) que lista esses problemas interrelacionados, cuja soma resulta na policrise, foram ouvidas 1.200 pessoas, entre lideranças políticas e empresariais e em especialistas em análises de riscos. Foram traçadas duas análises: uma para um cenário de curto prazo (dois anos), em que se destacam questões como dívidas, alimentos e tragédias; e outra para daqui a dez anos, com ameaças como perda de biodiversidade.
Confira a posição e o caráter dos riscos para cada um desses cenários.
- Dois anos:
1. Crise do custo de vida (social);
2. Desastres naturais e eventos climáticos extremos (ambiental);
3. Confrontos geoeconômicos (geopolítico)
4. Falha na mitigação da mudança climática (ambiental)
5. Polarização social e erosão da coesão social (social)
6. Incidentes que causam prejuízo ambiental de larga escala (ambiental)
7. Falha na adaptação à mudança climática (ambiental)
8. Expansão dos cibercrimes (tecnológico)
9. Crise de recursos naturais (ambiental)
10. Migração involuntária em larga escala (social)
- Dez anos:
1. Incapacidade de mitigar a mudança climática (ambiental)
2. Falha na adaptação à mudança climática (ambiental)
3. Desastres naturais e eventos climáticos extremos (ambiental);
4. Perda de biodiversidade e colapso do ecossistema (ambiental);
5. Migração involuntária, em larga escola (social)
6. Crise de recursos naturais (ambiental)
7. Polarização social e erosão da coesão social (social)
8. Expansão dos crimes cibernéticos (tecnológico)
9. Confrontos geoeconômicos (geopolítico)
10. Incidentes de dano ambiental em larga escala (social)
Outras palavras
Na esteira da repercussão do termo “policrise”, a rede NPR, dos EUA, enumerou outros termos e expressões que prometem gerar buzz neste ano. A empresa pediu a especialistas em saúde e em desenvolvimento que selecionassem e explicassem as palavras-chave deste ano.
Da mesma forma que em Davos, eles apontaram a sobreposição de alguns problemas, como emergências de saúde, mudanças climáticas e crises econômicas.
Veja alguns dos termos indicados pelos especialistas (para ver todas as nove palavras, clique aqui), a começar por aquela que se iluminou em Davos.
- Policrise – "Todas as crises que estamos vendo sempre ocorreram. O que mudou é a taxa com que esses eventos caóticos estão nos atingindo", disse Danny Ralph, professor do Centro de Estudos de Risco de Cambridge. A conectividade aumentada entre essas ameaças é a marca da policrise de 2023.
- Definhamento – Não é um termo novo, mas é grave. Em 2022, o Programa Alimentar Mundial (PAM) informou que o número de pessoas famintas em todo o mundo aumentou de 282 milhões para cerca de 345 milhões desde o início do ano. Com os danos contínuos causados por conflitos, mudanças climáticas e altos custos de combustível e alimentos, esse número deve crescer. No ano passado, mais de US$ 500 milhões foram arrecadados para combater o definhamento infantil, a forma de desnutrição que mais ameaça a vida dos pequenos, em que a criança tem peso muito baixo para sua altura.
- Aridificação – Cientistas estão preocupados com a ocorrência de períodos de seca mais longos e intensos. Barron Joseph Orr, principal cientista da Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD), alerta para a aridificação, que representa um crescente descompasso entre a oferta e a demanda de água disponível numa área. "Quanto mais secas forem as condições, mais caro será plantar culturas básicas em algumas regiões”, observa Orr. Para alguns especialistas, falar em seca implica em um quadro que pode ser alterado. Ou seja, é um fenômeno temporário. Já a aridificação é um efeito permanente. Uma região pode ficar árida de modo progressivo, aumentando as chances de incêndios com o entorno cada vez mais seco.
- Do asfalto à mão – A expressão (em inglês “Tarmac to arm“) se refere a uma medida importante para o sucesso de diversas ações humanitárias: a logística de entrega. ONGs, governos ou doadores devem levar em consideração os custos de entrega de produtos como vacina e medicamentos dentro ou fora do país. Não adianta doar itens de primeira necessidade se eles não chegam até as pessoas beneficiadas. Caixas não saem da pista de um aeroporto até a mão de pessoas afetadas por inundações, especialmente se elas estiverem isoladas. Em suma, é preciso investir não apenas em materiais, como também em sistemas de distribuição que permitam que as vítimas de uma tragédia climática, por exemplo, sejam atendidas.