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A onda de boicotes na esteira do discurso de ódio
Boicotes a uma marca não são novidade. Desde que os consumidores ganharam vozes potentes por meio da mídia social, as empresas estão mais atentas – e preocupadas – com discursos negativos que podem se alastrar pelas redes. Mas, além da propagação de mensagens que pesam sobre a imagem de uma marca, há o ato de boicotar, seja por uma falha da companhia no atendimento ao consumidor, seja por uma decisão mercadológica tomada erradamente e que impacta uma comunidade, seja por cobrança de preços abusivos.
Mais recentemente, porém, estão surgindo boicotes definidos por um discurso que, em tese, poderia ser político. Porém, de fato, são casos de intolerância e de ódio. Eles estão sendo praticados principalmente por bolsonaristas.
Um exemplo disso foi o barulho causado em torno de Felipe Neto que anunciou parceria com a marca Bis, da Mondelez. Bolsonaristas decidiram fazer postagens nas redes mostrando que não iriam mais adquirir o produto e, em troca, passariam a comprar mais KitKat.
Os detratores de Felipe, no entanto, não alcançaram o efeito esperado. Ao contrário do que espalharam, as ações da Mondelez não caíram na Nasdaq devido ao boicote. Os papéis tiveram uma queda, fruto de incertezas econômicas e dos efeitos da guerra de Israel contra o Hamas. No entanto, o valor voltou a subir na mesma semana.
A marca na mira dos bolsonaristas agora é a Piracanjuba, que tem como garota-propaganda a artista Ivete Sangalo. Não se sabe exatamente quando o movimento contra a empresa começou a ser engendrado. Mas os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro trataram de publicar na mídia mensagens cancelando a marca de leite e indicando outra caixa de longa vida, o Ninho.
Ivete é garota-propaganda da Piracanjuba desde fevereiro de 2019. A decisão dos bolsonaristas não está pautada, portanto, em nada novo relativo à parceria. Não há nenhuma campanha recém lançada com a artista como protagonista. E também não há manifestações recentes de Ivete como se apoiasse Luiz Inácio Lula da Silva. O que perturba os bolsonaristas é o fato de a cantora ter sinalizado, em um show em Salvador, em outubro do ano passado, que iria votar no oponente de Bolsonaro. Ivete fez o “L”.
Tudo isso leva a pensar que a cantora baiana é apenas “a bola da vez” desse grupo de pessoas intolerantes.
Mas há mais um detalhe no boicote que está repercutindo nas redes. Um dos vídeos que viralizou mostra um homem empurrando o Piracanjuba para a prateleira e pegando, na sequência, o leite Ninho. Acontece que as marcas são ligadas à mesma empresa. Em 2015, a Piracanjuba foi adquirida pela Laticínios Bela Vista, de Goiás.
Já a Ninho passou para as mãos da companhia em agosto de 2019, quando a Nestlé fez um acordo de licenciamento com a Bela Vista. Além de Ninho, a empresa goiana está com a marca Molico.
O UOL publicou uma nota divulgada pela Piracanjuba a respeito do assunto. A empresa informou que "a contratação de embaixadores, influenciadores e parceiros está relacionada à relevância deles para a divulgação da marca Piracanjuba, sem qualquer vínculo político". Também declarou que "respeita a liberdade de expressão e as mais diversas opiniões, permanecendo no direito de não se manifestar sobre desdobramentos".
A briga dos bolsonaristas com Felipe Neto/ Bis e Pirancajuba/ Ivete está abrindo mais um leque: Taís Araújo e L’Oréal. A atriz é embaixadora da marca há anos, mas somente agora os inconformados apoiadores de Bolsonaro parecem ter se dado conta disso.
O Clubeonline não irá compartilhar os vídeos que falam dos boicotes, que estão orientados por um discurso de ódio.