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Plantão #CodeRed: Fernando Meirelles

Marcas e agências: vamos falar sobre o alerta da ONU?

17.08.21

A crise climática mudou de cor, segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), ligado à ONU. Passamos do alerta amarelo, de atenção, para vermelho, diante dos resultados apresentados a partir da análise de dados e fatos feita por 234 cientistas. Muitas alterações são "irreversíveis ao longo de centenas e milhares de anos", aponta o documento, divulgado na semana passada.

Esse quadro levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a afirmar que não apenas líderes de governos, como de empresas e também a sociedade precisam se unir em torno de políticas, ações e investimentos para limitar o aquecimento da temperatura e evitar uma catástrofe climática.

A ONU anunciou que o relatório é “um código vermelho para a humanidade”. Em função disso, o Clubeonline criou o Plantão #CodeRed, que procura agências, anunciantes, produtoras, veículos e especialistas para discutir o assunto. Afinal, o alerta dado pelo IPCC está reverberando? Ele muda ou reforça estratégias e planejamentos? O mercado de comunicação está conseguindo fazer a diferença? Ou abordagens sobre o tema são usadas basicamente para melhorar imagem de marca?

Iniciamos a série com o professor Raoni Rajão, da UFMG, um dos convidados do Festival do Clube 2021. Ele vai falar sobre o que vamos viver se nada for feito em favor do planeta. Leia aqui o comentário de Raoni a respeito do alerta da ONU.

Na sequência, foi a vez de Rui Branquinho, cofundador e CCO da agência GiveBack, que desenvolve projetos de comunicação criativa com resultados mensuráveis e que tragam benefícios para a empresa, para a sociedade e para o mundo.

Com a palavra agora, o cineasta Fernando Meirelles, sócio da O2 Filmes que se define como “Diretor-Metido-a-Ambientalista”. A gente destaca também que ele é mais um convidado da 9ª edição do Festival do Clube.




Os jornais nos dizem que o IPCC ‘mandou um alerta’, mas que ainda há tempo para que o planeta não ultrapasse o 1.5 grau de aquecimento até o final da década. Chamar aquele relatório de alerta é um eufemismo vergonhoso; é tipo um duplo flip carpado nos fatos. De qualquer maneira, a ciência nos diz o que precisamos fazer para escapar deste destino. Basta reduzirmos a nossa emissão de CO2 em 7% todos os anos até o final da década. Em 2020 o mundo iria aumentar em 9% as emissões, mas graças à pandemia aumentou apenas 2%. Boa notícia.

Por outro lado, em 2021 teremos o segundo maior aumento de emissões da história. Ou seja, nem se a pandemia se estendesse até 2030 conseguiríamos cumprir a meta. Ainda há tempo? Sim. Vamos conseguir?

O que mais me assusta na crise do clima não são as queimadas, as enchentes, as ondas de calor ou o aumento do nível do mar. O que mais me assusta é a quantidade de refugiados do clima. Hoje, a ONU calcula em 21 milhões de pessoas sem casas. As projeções multiplicam esses números nos próximos 10 anos. As vastas populações que não terão mais suas terras devem pressionar o mundo a ponto de toda geopolítica se transformar. Governos autoritários, muros nas fronteiras, desabastecimento, conflitos armados, vai ter de tudo.

O mesmo relatório diz que o semiárido brasileiro, que hoje já abriga uma área desértica do tamanho da Inglaterra, em pouco tempo não será mais habitável. O Nordeste brasileiro tem a área seca mais densamente povoada do mundo. Em uma década, grande parte dessa população terá de se deslocar e as grandes cidades serão o destino mais provável. Foi um movimento de migração nessa escala que criou, em Damasco, a instabilidade que levou à desorganização do país.

Tenho muito medo do futuro e fico muito triste ao pensar que estamos perdendo este planeta tão lindo sem saber como reagir. Meus filhos terão uma vida péssima, meus netos não sei como sobreviverão.

O que podemos fazer? A nossa parte, creio.

Outro dia um criativo amigo me convidou para participar de um projeto muito lindo sobre sustentabilidade. Trocamos ideias, nos entusiasmamos. Um tempo depois, ele me ligou e disse que pensou bem e não faria sentido o cliente vender aqueles princípios se ainda eram apenas boas intenções. Acabou propondo ao cliente usar a verba para fazer uma reformulação drástica na empresa, uma mexida que envolve toda a cadeia produtiva, e só depois da lição de casa pensar em comunicar. Os caras compraram. Achei ninja. Ele decidiu ser parte da solução e não parte do problema.

A Greta Thunberg esta semana andou dando umas caneladas na indústria têxtil, que vem com esse papinho de sustentabilidade. Ela foi capa da Vogue, mas escancarou essa onda greenwashing. Gosto dessa garota. Se uma empresa não está nem aí para o futuro, eu lamento, mas também não vem pagar de bacaninha porque paciência tem limite.

Nós nos sentimos impotentes pela escala do problema, mas há uma coisa que podemos fazer que é fundamental para lidarmos com a crise. Votar só em candidatos para quem esta pauta tenha importância; de direita ou de esquerda, não faz diferença. As medidas mais importantes para enfrentar os desastres são iniciativas de Estado. Estamos nas mãos dele. Vamos eleger boas mãos.

Fernando Meirelles




Quer participar deste plantão? Escreva para redacao@clubedecriacao.com.br.

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