Quanto plástico!

A poluição causada por plástico é uma das mais graves do mundo. Seus resíduos se espalham pelos oceanos e hoje encontramos microplásticos no Everest, o ponto mais alto da Terra, e em mais de 100 espécies aquáticas. Aliás, já foram localizadas essas partículas no corpo humano, em órgãos como os pulmões.

Um estudo publicado na revista Science Advances, edição com data de capa de 10 de maio, mostrou que 56 empresas produzem mais da metade da poluição plástica no mundo. E seis respondem por 25% desse lixo. A companhia que mais contribui para esse cenário é a Coca-Cola.

O trabalho, intitulado "Global producer responsibility for plastic pollution", contou com a ajuda de mais de 100 mil voluntários que coletaram e catalogaram 1,8 milhão de pedaços de lixo plástico em 84 países - inclusive no Brasil - em um esforço que se estendeu entre 2018 e 2022. Essas pessoas, coordenadas pelo grupo Break Free From Plastic, vasculharam praias, parques, rios e em outros locais em busca de resíduos. Quando aparecia uma marca nesse material, a informação era registrada.

A maior parte desse lixo consistia em embalagens descartáveis para alimentos, bebidas e fumo. Porém pouco menos da metade apresentava rótulos em condições de identificar de quem era o produto. Isso porque os os plásticos podem perder as cores e letras das marca em função da exposição à luz solar e às intempéries.

Na porção em que era possível verificar as marcas, foram reconhecidas 56 multinacionais de bens de consumo. As seis que produziram 25% do plástico são: The Coca-Cola Company, PepsiCo, Nestlé, Danone, Altria (dona do cigarro Marlboro, entre outros produtos com tabaco) e Bakhresa Group (corporação da Tanzânia que fabrica alimentos e bebidas). A Coca-Cola, sozinha, responde por 11% dessa poluição.

Parte das empresas que estão na lista adota programas com foco no plástico, como os de reciclagem. Os resultados do estudo sugerem que eles não estão sendo eficazes.

“Isso significa que, para resolver o problema da poluição plástica, temos de mudar enormemente a forma como operamos como sociedade”, declarou ao The Washington Post o principal autor do estudo, Win Cowger, diretor de pesquisa do Moore Institute for Plastic Pollution Research (Califórnia).

A pesquisa demonstrou uma correlação entre a produção de plástico de uma empresa e a quantidade de resíduos plásticos com marca despejados no meio ambiente. Isso quer dizer que se uma companhia eleva em 1% a produção da massa plástica no mundo, ela será responsável por 1% de aumento dos resíduos plásticos.

Também autora da pesquisa, Lisa Erdle, diretora de ciência da ONG The 5 Gyres Institute, afirmou para o The Guardian que “produção é realmente poluição”.

O jornal inglês buscou as empresas Coca-Cola, PepsiCo, Danone, Nestlé, Altria e Philip Morris International (PMI), que também está relacionada no estudo. A Coca-Cola respondeu: “Nós nos preocupamos com o impacto de cada bebida que vendemos e estamos comprometidas em fazer crescer o nosso negócio da maneira certa”. A empresa tem o compromisso mundial de tornar 100% de suas embalagens em produtos recicláveis até 2025.

A Nestlé afirmou que reduziu a utilização de plástico virgem em 14,9% nos últimos cinco anos. E informou que apoia programas em todo o mundo para desenvolver programas de coleta e reciclagem de resíduos.

Já a Danone alegou que trabalha para reduzir a pegada plástica. Entre 2018 e 2023, a corporação alegou ter diminuído a utilização de plástico em 8%, equivalente a 62 mil toneladas. Ela também aumentou a reciclabilidade das embalagens (84% delas são recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis). A empresa declarou que apoia o Tratado Global dos Plásticos da ONU, que deve ser consolidado até o final deste ano.

As duas companhias de tabaco, Altria e PMI, contestaram a exatidão dos dados da pesquisa.

Confira o abstract do estudo aqui.