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SxSW 2022

Rohit Bhargava: pessoas que entendem pessoas saem ganhando

15.03.22

Alguns nomes são bem famosos entre os habitués do SxSW. Um deles é Rohit Bhargava. Para quem não o reconheceu, trata-se do criador da Non-Obvious Company. Para comprovar sua popularidade, bastava conferir a longa fila que se formou para acessar seu painel, “10 Non-Obvious Megatrends Shaping 2022 and Beyound”.

Bhargava tem desenvolvido, nos últimos anos, uma longa lista de tendências que diz fugirem da obviedade. Tem escrito best-sellers e se apresentado em conferências variadas. E assim está construindo sua reputação. Nessa trajetória, há algo que se revela persistente, segundo sua análise. E isso vale mesmo depois de a pandemia ter afetado nossa rotina e nossos negócios: pessoas que entendem pessoas sempre saem ganhando.

Por isso, muito do que vem focando em seu trabalho não se volta exatamente para a tecnologia, embora tenha muita tecnologia, afirmou. Sua atenção recai sobre o que impacta a vida das pessoas.

Um ponto que destacou se refere ao excesso de informações que nos cercam. Mas boa parte delas não têm utilidade para a gente. Além disso, há muita bobagem transitando por aí. E nós mesmos ajudamos a aumentar isso, já que nós produzimos conteúdo. Com isso, estamos perdendo a confiança porque não dá para acreditar em tudo que circula pela web. Para Bhargava, estamos vivendo uma crise de credibilidade.

Diante disso, é importante entender que não adianta consumirmos tanta coisa. Em sua visão, estamos vivendo uma poluição de dados e isso não nos ajuda. O que precisamos fazer é encontrar aquilo que fará diferença na vida das pessoas. E esse achado não virá pelo simples fato de buscarmos todos os dados disponíveis. “Você não vai ficar mais inteligente por consumir tudo (o que se produz)”, disse. Mais do que acessar tudo o que estiver disponível a respeito de um assunto, é preciso compreender o que ele realmente significa. Isso o levou a mencionar uma frase de Isaac Asimov: “I am not a speed reader. I am a speed understander”.

Bhargava faz uma análise de múltiplos livros e revistas (o que inclui publicações sobre agricultura ou títulos para adolescentes) para estabelecer suas tendências. Seu objetivo é encontrar meios de enxergar o que os outros não estão enxergando. Um exemplo disso é o que está acontecendo agora com o metaverso. Podemos criar uma identidade no Roblox, outra no Fornite e outra no Sandbox. Como lidar com todas essas versões de uma mesma pessoa? Ele comentou um pouco disso na apresentação das dez tendências não-óbvias.

Confira as dez abaixo:

1. Individualismo amplificado – Estamos cultivando diversas maneiras sobre como somos percebidos. Às vezes de maneiras até estúpidas. Estamos em diferentes plataformas. E podemos chegar ao ponto de múltiplos metaversos. A proposta diante disso é se preparar para um mundo com identidades divididas. Afinal, as pessoas podem desejar aparecer em um metaverso de um jeito e em outro, de outro.

2. Ungendering – Significa tirar o gênero das coisas. Isso vem acontecendo em diversas áreas. No setor de brinquedos, por exemplo, a distinção entre produtos “para menina” e “para menino”. A ampliação do debate sobre diversidade está mudando a maneira como vemos as pessoas.

3. Conhecimento instantâneo – As informações chegam rapidamente. E os dados se multiplicam. É possível descobrir no YouTube coisas para aprender em curto tempo. Há soluções tecnológicas para desenvolver habilidades, como tocar guitarra, em condições que aceleram o conhecimento. O ponto importante para as empresas é o que fazer para as pessoas se sentirem capacitadas ou mais inteligentes a respeito de algum tema ou aprendendo algo em tempo rápido.

4. Revivalismo – A questão é: quando há muita tecnologia, quando há muita complexidade, temos o desejo de voltar para as coisas que conhecemos e nas quais confiamos. Um exemplo de como isso é real é o fato de reencontros de elencos de franquias poderosas, pelo zoom, terem feito muito sucesso. Um dos caminhos é oferecer experiências mais humanas. Um supermercado no Reino Unido criou um caixa lento para que as pessoas possam passar suas compras com calma e se dirijam a um profissional em carne e osso para fechar o processo. Pessoas que tenham um determinado grau de demência podem, assim, ser bem atendidos com a volta do tradicional meio de atender o consumidor.

5. Modo humano – Humanizar o serviço é uma das apostas. É preciso ter mais empatia. E dar mais atenção aos processos de inclusão. Empatia tem de fazer parte da estratégia. Uma unidade da rede Starbucks nos EUA emprega funcionários com deficiência auditiva e foi criada uma cultura para atendimento de pessoas com as mesmas necessidades. Nessa linha, estão surgimento de embalagens para produtos como cremes cosméticos que foram adaptados para quem tem deficiências físicas.

6. O valor da atenção – Nossa atenção está se direcionando para o espetáculo. Muitas vezes para coisas que não são importantes. Cheetos criou um museu virtual que mostra Cheetos que se assemelham a pessoas, animais ou outro elemento. A orientação é separar o que importa do barulho.

7. Lucro ligado ao propósito – Há uma maior pressão para que as companhias tenham alguma missão social importante. E isso pode ser desenvolvido com ajuda de muita criatividade. Um supermercado francês lançou uma campanha impressa mostrando formas diferentes de frutas, valorizando-as. Pelo lado da sustentabilidade, marcas de roupas estão recebendo roupas usadas e incentivando pessoas a não comprar novas.

8. Abundância de dados – Algumas estimativas mostram que 90% dos dados que circulam no mundo foram criados nos últimos dois anos. A quantidade de informações geradas (e coletadas) tem crescido de maneira assombrosa e isso vem levando ao que podemos chamar de poluição de dados. A saída para esse cenário é aprendermos a fazer mais perguntas. E as perguntas certas.

9. Tecnologia protetiva – A tecnologia está se expandindo a ponto de nos proteger de decisões erradas. Surgem soluções que nos indicam, de forma proativa, que podemos fazer algo para nossa segurança, como dar alertas a respeito do gasto excessivo no cartão de crédito. Ou anunciar quando um prato está realmente pronto, em vez de se confiar num tempo pré-determinado dado por receitas. Mas isso tem um custo e merece reflexão: em nome dessas tecnologias, quanto de nossa privacidade teremos de negociar?

10. Flux commerce – A tendência se refere ao mix de oportunidades comerciais entre diferentes empresas. Ou a expansão de uma marca para outra área onde não costumava atuar. A Crayola, de giz de cera, estava basicamente vinculada às artes. Mas acabou criando uma linha de maquiagem, a Crayola Beauty. Taco Bell fez uma parceria com um hotel e preparou um quarto customizado para os fãs da marca. É preciso valorizar também o review dos consumidores.

Clubeonline está no SxSW 2022 por conta do patrocínio de Africa; Arena; Beats; Chucky Jason; Live; Mutato; Netza&cossistema; New Vegas; 99; Publicis Brasil; Smiles e Soko.

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