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As boas notícias e a má do New Order
Depois de terem feito o lançamento de um festival, o Beyond The Music, dentro de outro festival, o próprio South by, a banda inglesa New Order atraiu as atenções do público do SXSW 2023 em um bate-papo que trouxe memórias e revelações sobre a incorporação da eletrônica em sua produção musical e sobre “Blue Monday”, clássico que completou 40 anos de lançamento neste mês, e a visão do grupo que nasceu em Manchester sobre o momento do mercado para jovens artistas.
Quem conduziu a conversa foi Will Hodgkinson, crítico de música inglês do jornal The Times. Mas antes o prefeito de Manchester subiu ao palco para enaltecer a que chamou de “melhor banda” da cidade – de onde saíram também grupos como The Smiths, Oasis e Joy Division, que originou o New Order.
Os músicos Bernard Sumner (vocais, guitarra e sintetizadores), Gillian Gilbert (guitarra e sintetizadores) e Stephen Morris (bateria, sintetizadores e programação), da formação original, estão em turnê pelos Estados Unidos e também atuam como embaixadores do novo festival, que vai acontecer em outubro em Manchester.
A respeito do evento, a banda divulgou que apoia o Beyond The Music para ajudar a inovar a indústria musical inglesa, que já revolucionou o mercado, e para dar impulso a novas carreiras, sobretudo porque hoje está mais difícil para os jovens músicos da região, disse Sumner. Desde que o Reino Unido saiu da União Europeia, os custos de apresentação em outros países do continente subiram muito. Fazer turnês é uma maneira de abrir portas para as bandas que estão se lançando.
O vocalista do New Order lembrou que o início deles foi complicado. Sumner, Stephen e Peter Hook (baixista, que deixou o grupo em 2007 e que estava na formação do Joy Division) sofreram muito com o suicídio de Ian Curtis, que era o cantor do Joy. Mas eles queriam seguir adiante. O primeiro álbum do New Order (“Movement”), que recebeu Gillian como integrante, ainda soava como o antigo grupo. Sumner contou que se sentia culpado em assumir os vocais. Todos estavam deprimidos e procurando consolo nas drogas, revelou. Era preciso mudar.
Foi nesse momento que a música eletrônica entrou na história deles. Stephen já conhecia um pouco do que estava sendo feita na cena alemã. Uma nova tecnologia despontava e instrumentos se conectavam a ela, gerando possibilidades. Sumner montou um sequenciador, usou um sintetizador, ligou tudo nos cabos e, assim, começou a revolução. Um mês depois de o álbum “Movement” ter chegado às lojas, o grupo lançou o single “Everything's Gone Green” (veja mais abaixo), dentro dessa proposta de misturar instrumentos tradicionais com eletrônica, que catapultou o New Order para a fama que Sumner afirmou nunca ter perseguido. Era dezembro de 1981.
Outro single é marcante na carreira da banda. “Blue Monday”, música que teve a ajuda de um cientista na sua criação (Martin Usher colaborou ao desenvolver um circuito interligando o sequenciador e a bateria eletrônica), teve vendas mundiais acima de três milhões, e projetou globalmente o New Order, fazendo, enfim, que o grupo se distanciasse do Joy Division.
Veja o clipe abaixo e também o momento em que ela tocou no show do SXSW.
Uma das curiosidades em torno do hit é que seu sucesso também representou seu fracasso. A aparente contradição se explica. O lendário Tony Wilson, fundador da Factory Records, gravadora que revelou o Joy e o New Order, se aproximou sorrindo de Sumner em um dia em que ele estava no estúdio mixando o álbum de alguma banda. “Acho que Johnny Marr estava tocando nele”, soltou o vocalista no painel, como se fosse nada, embora estivesse se referindo ao famoso guitarrista dos Smiths.
“Ele entrou no estúdio e disse ‘tenho uma boa notícia e uma má notícia’. Pedi para ouvir primeiro a boa”, recordou-se. Tony, então, falou que “Blue Monday” tinha estourado e estava vendendo aos milhares. “Respondi: ‘como pode haver má notícia nisso?’ E ele me perguntou se eu lembrava dos buracos que tinham sido colocados na capa do single. Disse que sim. ‘Bem, estamos perdendo dinheiro por causa deles’”.
Para esclarecer: a capa, criada pelo designer Peter Saville, que se tornou o artista visual da gravadora, fazendo diversos álbuns das estrelas da casa, do Joy ao New Order, passando por Durutti Column e A Certain Ration, foi inspirada em um disquete, que lhe foi entregue por Morris. Saville resolveu usar die-cuts (formatos pré-cortados) para poder ter os círculos do disquete no álbum. O designer já declarou que, por conta disso, e do uso de cores específicas, o custo de produção foi acima do normal. Porém, nas palavras dele, ninguém esperava que o single fosse vender de fato. Um dos motivos disso é que ela é muito longa e as rádios da época não deveriam executá-la.
Com isso, quanto mais vendiam o disco, mais perdiam dinheiro. Sumner ainda arrancou risos do público do SXSW ao comentar que Wilson achou isso maravilhoso, ao que o músico foi obrigado a replicar. “Não, Tony, não é maravilhoso”.
Passado tanto tempo, os três podem rir da “má notícia”, apesar de dizerem que preferiam não lembrar dela. Esse e outros momentos da carreira do New Order – que teve indicação para o Hall da Fama do Rock deste ano, junto com o Joy Division; uma boa notícia – foram repassados no painel. Já entre as perguntas feitas pelo público, uma mostrou como a banda, que se utilizou tanto da tecnologia em sua obra, vê a Inteligência Artificial na criação de música. Para Sumner, ela pode fazer um esboço de uma canção, mas não pode criar uma emoção genuína. IA trabalha com padrões, não sentimentos.
“Quando começamos a tocar música eletrônica, muitas pessoas disseram que parecia fria, mas as máquinas não fazem a música. Se você tocar um som frio, a música vai sair assim. Depende do criador. A IA pode fazer uma aproximação de melodias, mas sem nenhuma conexão emocional duradoura. Eu acho. Eu espero”, completou.
Lena Castellón
A cobertura do SXSW 2023 pelo Clubeonline tem patrocínio de Audaz, Brunch – Influência de Verdade, Ça Va, Modernista Creative Producers e Vandalo.