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SXSW 2023

Douglas Rushkoff: cogumelos para mudar mentalidade bilionária

21.03.23

A mentalidade bilionária e os caminhos seguidos sistematicamente por quem chegou lá, ou pretende chegar, não é sustentável para o mundo, incluindo os próprios bilionários. "Eles usam como desculpa o que de ruim pode acontecer no mundo para investir em suas fantasias de uma vida surreal e isolada do resto do mundo. Perguntei a um deles: depois do apocalipse, onde você vai arrumar suprimento para manter suas piscinas aquecidas? Em uma impressora 3D?", questionou Douglas Rushkoff a um afortunado que nem deve imaginar quantas peças, pessoas e veículos são necessários para manter um de seus paraísos particulares funcionando. Ele contou esse e outros exemplos de como tenta trazer reflexões de que é preciso olhar ao redor, em prol do futuro, durante a palestra "The end of the billionaire mindset: a celebration", no SXSW 2023. 

Douglas Rushkoff é autor de 20 livros e documentarista que estuda a autonomia humana na era digital. Foi nomeado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) como um dos 10 intelectuais mais influentes do mundo. O que não significa que trabalhe para agradar a todos. "Quando saiu meu último livro, "Team Human", cancelaram duas palestras minhas", contou. 

Dá para entender quando você o ouve defender que "temos que lutar contra a mentalidade bilionária que nos trata como produtos a serem consumidos e não como humanos a serem celebrados".

Segundo ele, como não podem nos controlar como pessoas, vão nos substituir com a Inteligência Artificial. E, numa comparação que volta ao início da civilização, "as mídias sociais são as missionárias que chegam, nos convencem de que tudo isso é legal, que vão nos estudar e vai ficar tudo bem""Não tenho medo da IA, mas de como estão programando ela", revela Rushkoff. Essa preocupação apareceu também nas previsões de Amy Webb, no mesmo SXSW deste ano (leia aqui).

O estudioso diz que há uma tendências das pessoas viverem uma alucinação da realidade nos ambientes virtuais. E, ao contrário da satisfação de Ian Beacraft, Chief Futurist da Signal and Cipher (leia aqui) em poder viver várias coisas ao mesmo tempo, Rushkoff afirma que não podemos ser felizes vivendo em escala, mas de forma local, no momento presente.

Ele cita o estudo de Paul Stamets sobre os cogumelos, que ganhou repercussão no documentário "Fantastic Fungi" desvendando a beleza e potência da interconexão que acontece pelas raízes embaixo do solo. Enquanto isso, a mentalidade bilionária, de que é preciso estar sempre acima dos demais, é exemplificada com a reação dos poderosos diante de uma iminente crise bancária, como a que aconteceu recentemente com o estadunidense Sillicon Valley Bank: "os poderosos tiram o dinheiro do banco e ficam assistindo a explosão".

Para ele, é preciso inverter a lógica de que as pessoas não usam a tecnologia para fazer as coisas acontecerem, mas usa-se tecnologia nas pessoas para torná-las mais previsíveis, controláveis, como se os humanos fossem o problema e a tecnologia a solução. E a sugestão são quatro intervenções no que vivemos atualmente:

1- desnaturalizar o poder para que as pessoas deixem de aceitar as construções sociais como condições naturais; 

2- acionar as pessoas para o movimento;

3- ressocializar para que as pessoas vivam em conexão umas com as outras;

4- cultivar reverência e admiração.

"Vivemos tendo nosso momento presente interrompidos por alertas. Precisamos sair do movimento da dopamina instantânea da tecnologia para a onda de oxitocina gerada pela conexão com os outros. Isso regula nossa imunidade e nos torna mais generosos", aconselha Douglas Rushkoff.






A cobertura do SXSW 2023 pelo Clubeonline tem patrocínio de Audaz, Brunch – Influência de Verdade, Ça Va, Modernista Creative Producers e Vandalo.

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