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SXSW 2024

Amy Webb: o superciclo tecnológico e a geração T

09.03.24

Grande nome do SXSW, a futurista Amy Webb, CEO do Future Today Institute, causou impacto com sua apresentação no palco de um dos principais salões do Centro de Convenções de Austin neste sábado, 09. Todos os anos, ela traz os resultados do “Emerging Tech Trend Report”, que chega à 17ª edição. Com 695 tendências destacadas, o relatório que acaba de ser lançado está dividido em 16 seções e tem quase 800 páginas.

As tendências podem ser acessadas a partir daqui. Amy incentivou que as pessoas esmiuçassem os dados do documento. O que ela reforçou foi a importância do tema central do estudo deste ano: o conceito de superciclo tecnológico.

Nos últimos cinco anos temos testemunhado extraordinários avanços em três áreas: IA, ecossistema conectado de coisas (como os wearables ou casas inteligentes) e biotecnologia. Em outros tempos, tivemos impulsos fantásticos proporcionados pela tecnologia que transformaram a economia e a sociedade de um modo geral. É o caso das máquinas movidas a vapor, da eletricidade e da internet. Mas elas causaram esses movimentos de forma isolada.

O que se passa agora? A IA, o ecossistema conectado e a biotecnologia estão convergindo. A inteligência artificial permitiu avanços em biotecnologia e os wearables, que antes estavam destinados a atletas, geraram um mercado consumidor. Essas três categorias de tecnologia de uso geral estão impactando o mundo de uma maneira diferente em relação ao passado. E isso explica este momento, de superciclo tecnológico.

Segundo Amy, hoje estamos no “pior” do que a tecnologia pode nos proporcionar, querendo, com isso, destacar os grandes avanços que ainda virão. Mas evolução não quer dizer, necessariamente, algo bom. A onda de inovação que irá nos atingir é tão intensa, nas palavras da futurista, que irá remodelar a existência humana de forma excitante e, ao mesmo tempo, aterrorizante. O problema é que estamos às voltas com muita complexidade – em especial para os negócios –, os líderes estão paralisados devido à insegurança e o real poder de decisão está concentrado em poucas pessoas.

Amy estabeleceu um acrônimo para marcar o que muitos pensam do futuro: FUD. Ou, medo (F, de “fear”), incerteza (U, de “uncertainty”) e dúvida (D, de “doubt”). Isso pode ser aplicado quando pensamos em IA e sobre transformação digital.

Geração T

E, por falar nisso, há mais um ponto destacado pela futurista. A preocupação que temos a respeito do efeito da inteligência artificial sobre o trabalho reflete o que somos: uma geração em transição. Sim, somos parte de uma grande transição. Estamos no meio de um superciclo tecnológico que vai tornar a sociedade muito diferente do que é hoje quando esse processo se encerrar. “O superciclo vai mudar a história”.

No meio disso tudo, é importante que alguns questionamentos sejam feitos e medidas sejam tomadas. Afinal, precisamos avaliar todos os cenários possíveis para calcularmos as consequências dessas transformações.

Para combater essa sensação de FUD, Amy defendeu que governos criem rapidamente departamentos de transição e que as empresas mapeiem suas cadeias de valor – e não deixem de atualizá-la, já que isso pode mudar com frequência. Quanto a nós, cabe lutar pelo futuro.

Cenários

Lançando um olhar sobre uma das tecnologias de uso geral, a IA, percebemos que, mesmo com o passar de um ano, as coisas parecem não ter evoluído tão bem em certas áreas. Os LLMs (large language models), que são a base da Inteligência Artificial generativa, continuam a apresentar problemas de vieses. Um dos casos mais recentes a chamar atenção para isso é o que se passou com o Gemini, do Google, que suspendeu em fevereiro a geração de imagens após queixas de imprecisões histórias e de vieses raciais.

O que isso demonstra? Falta responsabilização e maior controle sobre o desenvolvimento da IA generativa. Já se falou de criação de comitês, mas a verdade é que os problemas continuam.

Uma tendência em que devemos prestar atenção é o que Amy chamou de “concept to concrete”. Hoje, temos de escrever no prompt o que queremos. Mas dentro de dois anos isso não será necessário. “Você não vai precisar de especificidade. Em vez disso, você apenas começará com um conceito. A IA fará um brainstorming com você para refinar a ideia, que pode ser um novo plano de negócios”.

Com tamanho aprimoramento, o que devemos estabelecer de regras para a IA? Imagine uma máquina treinando seus algoritmos para que estes obtenham uma licença médica. Um médico humano pode ser processado e responder criminalmente por seus atos. E uma máquina? Um bot de IA pode comprar ações com o uso de informações privilegiadas o que, sendo um profissional de carne e osso, implicaria em sanções. A IA pode quebrar regras? E se a inteligência artificial criasse um evento deep fake? E se fosse de tal forma realista que as pessoas se enganassem e iniciassem uma guerra por isso, como um suposto ataque ocorrendo em uma região de conflito?

Em outra categoria, a dos ecossistemas conectados de coisas, um dos chamarizes é o Apple Vision Pro, que Amy apelidou de “face computer”. Um dispositivo como esse pode ajudar a selecionar compras dentro de um supermercado, mas outros objetivos podem estar por trás desse tipo de device. Que tal o rastreamento das reações do olho frente a uma prateleira? Segundo Amy, a pupila cresce quando vemos algo que nos impacta de forma positiva. Assim, alguém – uma empresa – poderá saber como seu organismo reage diante de um determinado produto. Como nos protegemos desse tipo de coisas? Como redefinir o conceito de privacidade?

No caso da biotecnologia, a movimentação vem sendo intensa. Uma empresa criou uma espécie de chatbot para biologia. Escreve-se no prompt o pedido para se criar uma molécula. Esse é apenas um passo. Em algum momento, na próxima década, vamos trabalhar com outro conceito: Organoid Intelligence (OI). É uma inteligência criada a partir da constituição de um organoide, réplica de um tecido orgânico. É como a reconstrução de células cerebrais conectadas a eletrodos. Essa OI será capaz de processar informações, unindo as habilidades biológicas com as sintéticas.

Há, de fato, diversos cenários que devem ser estudados para que a humanidade decida para onde conduzir a transformação. E é por isso que Amy Webb defende que governos, empresas e indivíduos se empenhem desde já a entender como estamos nos movendo neste momento de superciclo tecnológico.

A cobertura do SXSW 2024 pelo Clubeonline é um oferecimento exclusivo da Corazon Filmes (@corazonfilmes).

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