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SXSW 2024

Verdades sobre saúde mental, com Selena Gomez e outros

10.03.24

Atenção, este texto pode conter gatilhos sobre suicídio e saúde mental. 

Já deveríamos ter entendido que os posts e stories do Instagram não revelam a vida real das pessoas. Mas ainda comparamos o que está lá, como se fosse a realidade perfeita do mundo, versos nossa quase sempre 'miserável' realidade. Esquecemos que "as luzes nunca são jogadas nos bastidores, nas dificuldades e lágrimas daquelas mesmas pessoas", lembrou o psicoterapeuta do Detroit Pistons, Dr. Corey Yeager no painel "Mindfulness Over Perfection: Getting Real On Mental Health", que aconteceu na tarde deste domingo, 10, no SXSW 2024. Por isso a importância de ouvir as questões enfrentadas por pessoas famosas e bem sucedidas como Selena Gomez, cantora, atriz, produtora, empreendedora e co-fundadora do Wondermind, um ecossistema criado para derrubar os preconceitos e barreiras e tornar acessível o tema mental health para todos. Em breve, será lançado também um app facilitar ainda mais o acesso a quem precisa. 


Protagonista do documentário "Selena Gomez: My mind and me", da AppleTV, ela decidiu falar sobre suas questões para que outras pessoas entendessem que não estavam sozinhas, vivendo suas depressões e ansiedades, como ela. Que isso é humano e que precisamos assumir para poder cuidar. "O documentário foi gravado há seis anos e é estranho ver agora como eu me sentia e me tratava. Hoje eu não falaria assim comigo", confessa.

A ferramenta que mais a tem ajudado a manter em dia sua saúde mental é a Dialectical Behavior Therapy (DBT). "Eu acolho meus sentimentos e emoções, muitas vezes fico ali com eles, investigo e trabalho cada um", revela. Ajudar os outros também faz parte de seu processo. "Eu sempre tive abertura para conversar com minha mãe, desde os 12 anos, e quero ajudar outras pessoas a criarem ambientes de diálogo, como o nosso, de mãe e filha, que me ajudaram muito. Mas não tem como forçar isso. Cada um tem o próprio tempo, é preciso respeitar. Eu precisei do meu para chegar onde estou hoje, e é um lugar muito melhor", disse Selena Gomez.

A mãe da cantora, Mandy Teefey, é CEO da Wondermind, que co-fundou com a filha, estava no palco também. Foi no meio da produção executiva da série do Netflix "13 reasons why" que ela percebeu que, enquanto tentava ajudar outras pessoas, não estava cuidando dela mesma, o que decidiu fazer. "Foi assustador sentar e olhar para mim mesma. Para o quanto eu tinha me desconectado de mim". Ela lembrou que quando foi identificando coisas que precisava cuidar, se criticava com frases difíceis como "se tenho isso é porque sou estúpida".

Como a filha, Mandy está comprometida a ajudar as pessoas a se cuidarem. "As pessoas não fazem terapia nos Estados Unidos por três motivos: não têm tempo, não têm plano de saúde ou dinheiro, e não acreditam em terapia. Por isso precisamos falar sobre isso e oferecer caminhos", declarou. O app que devem lançar é mais um passo. "Um lugar para as pessoas explorarem a si mesmas, se descobrirem".

Mandy também reforçou a importância de ouvir e conhecer as pessoas de verdade para poder ajudá-las. Adepta da escrita como forma de organizar os pensamentos e as respostas que precisa, ela falou que vivemos uma epidemia solitária. "Temos que nos explorar internamente, mas há tanto barulho externo que não conseguimos. Tente desligar o telefone, a TV, sentar e se ouvir", aconselha.

O psicoterapeuta do time de basquete Detroit PistonsDr. Corey Yeager, reforçou a importância disso: "A felicidade e a cura não estão do lado de fora, mas dentro de cada um. Um profissional, um amigo, pode ajudar a guiar, mas não pode te curar, nem trazer sua felicidade." Segundo ele, somos o principal espelho de nós mesmos. A única pessoa que passou por todas as próprias histórias. E temos que ser mais gentis com a gente mesmo. Trabalhar nisso. E no pensar positivo. "É possível direcionar nosso pensamento para pensar mais positivo que negativo, inclusive sobre nós mesmos".

Como ferramentas para esse processo, ele também recomenda (e utiliza) a escrita como forma de aliviar o stress, além de formar o que chama de Suprema Corte: "tenha um grupo pequeno de pessoas que te conheçam de verdade, com profundidade, que conheçam sua vida e que você confie para se aconselhar".

Dr. Coney Yeager foi além quando fala da escuta. É importante ouvir e estar aberto para entender: "como posso te ajudar e como você pode me ajudar. Precisamos parar de ditar aos outros o que e como eles devem agir". Ele dá o exemplo da paternidade. "Posso não concordar com meu filho, mas convidá-lo abertamente a me ajudar a entender como ele pensa para podermos seguir". E alerta que, quando reclamamos das novas gerações, nos esquecemos que elas vão agir de acordo com a forma que as tratamos.

O psicoterapeuta lembrou que a depressão é a ruminação do passado, e a ansiedade, a ruminação do futuro. Mas nos esquecemos que só temos o presente e que é nele que devemos estar.

É focado no presente que Solomon Thomas, atacante defensivo do New York Jets da National Football League (NFL) tem cuidado de si e dedicado parte de seu tempo para ajudar outras pessoas. "Não é fácil estar aqui, voltando a esses momentos. Mas também foi falando minha história que eu me senti acolhido. Que percebi que, com tudo que passei, é ok não me sentir ok."  

Vindo de uma família tranquila e estruturada, o atleta viu sua vida mudar quando, em 2018, a irmã de 24 anos cometeu suicídio. Passou a lidar com depressão, ansiedade e tristeza, mas se culpava por se sentir assim, mesmo sendo uma pessoa bem-sucedida em outras partes da vida. Ele mesmo poderia ter seguido o caminho da irmã, se não buscasse ajuda. "A conexão com as pessoas, ver que eu não estava sozinho passando por aquilo, me ajudou", disse, mas com um alerta. "Nunca diga que você sabe o que o outro está passando, porque a gente não sabe. Apenas esteja aberto para ajudar, pois cada um tem sua história. Quando resolvi me abrir, eu era o modelo do sucesso por fora, mas estava morrendo por dentro. As pessoas sofrem em silêncio", contou.

Hoje, ele é adepto da terapia - que diz ter salvo sua vida -, da escrita e da meditação, para organizar tudo que sente e tem na cabeça. "Eu vivo dentro da minha cabeça, preciso me organizar com isso".

A mediadora do painel, Dr. Jessica Stern, psicóloga, clínica e professora da NYU Langone Health, lembrou que o momento de compartilhamentos tão profundos era também um tributo à Ella, irmã do jogador, e a todas as outras pessoas que, como ela, não estavam mais ali pois tinham sofrido muito. Lembrou que foi buscando caminhos que estávamos todos ali e que precisamos aceitar que nossos pensamentos e emoções, são reais. E que falar sobre isso com as pessoas certas, ajuda.

Se você já pensou em suicídio ou conhece alguém que precise de ajuda, ligue 188, para o CVV (Centro de Valorização da Vida), ou acesse cvv.org.br. Outra opção são os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), do Ministério da Saúde, que podem ser encontrados discando 136 ou aqui.  

Se quiser ler sobre como transformar dramas e conflitos negativos em conflitos positivos no ambiente de trabalho, leia sobre a palestra "How Teams Can Skip the Drama and Embrace Healthy Conflict",com a escritora e especialista em ambientes de trabalho Amy Gallo aqui.

E sobre "Five ways to improve well-being in the workplace: emerging trends from the science of happiness", com a professora de psicologia da Yale University e apresentadora do podcast "The Happiness Lab" , Laurie Santos aqui.

por Rita Durigan

A cobertura do SXSW 2024 pelo Clubeonline é um oferecimento exclusivo da Corazon Filmes (@corazonfilmes).

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