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Tomorrowland

Crise climática ganha peso na organização do evento

09.04.24

A organização do Tomorrowland no Brasil, uma sociedade entre a brasileira DC Set Group e a belga We Are One World, anunciou nesta terça-feira, 09, a edição 2024 do Tomorrowland, um dos festivais de música eletrônica mais famosos do mundo, que irá acontecer entre os dias 11 e 13 de outubro, em Itu (SP).

Entre as novidades deste ano, a Budweiser foi apresentada como patrocinadora máster. Outro tema que ganhou relevância foi a atenção à sustentabilidade e ao clima. É uma tendência entre os grandes festivais internacionais de música incorporar práticas que preservem minimamente o meio ambiente, como o uso de energia solar. Em 2023, diversos eventos passaram por problemas relacionados às mudanças climáticas. O Tomorrowland Brasil foi um deles. Ao retornar ao país após um hiato de sete anos, os organizadores do evento nutriam altas expectativas para a edição, a terceira no Brasil (antes, aconteceu em 2015 e 2016, sob coordenação de outra empresa). Afinal, ao abrir as vendas de ingressos em 2023, foram comercializados 189 mil entradas em três horas. O festival viveu, no entanto, uma grave crise provocada por chuvas torrenciais, obrigando o cancelamento de um dos três dias da festa. O índice pluviométrico da semana foi quatro vezes superior ao que costuma ser na época, consequência das mudanças climáticas do planeta.

As imagens do Parque Maeda, local do festival, repleto de lama, já tinham invadido as redes sociais no primeiro dia. No segundo, uma sexta-feira 13, a intensidade das chuvas levou a organização a suspender o evento. O CEO da We Are One World, o belga Bruno Vanwelsenaers, confessou que naquela data, às 7h da manhã, ao ver o estrago, tinha pensado que era o fim do Tomorrowland Brasil.

Para dar continuidade ao evento, além da espera da melhora do tempo - o que era monitorado por uma equipe de meteorologia (que entra em ação a partir das montagens das estruturas e dos palcos, que são importados) -, os organizadores tiveram de utilizar cerca de 30 mil metros quadrados de piso plástico modular de polipropileno, para que o público pudesse se deslocar pelo espaço. Desse modo, o festival foi retomado no terceiro dia.

Outro ponto muito criticado foi o acesso ao Parque Maeda, uma propriedade privada que fica fora do centro urbano de Itu e que demanda deslocamento de carro, ônibus fretado ou transporte especial da rodoviária da cidade até a área, uma antiga fazenda.

A edição 2024 deverá contar com melhorias em cinco rotas, com previsão de asfaltamento e ampliação das vias. Esse processo começa agora e deverá ser concluído em 12 meses, quando a edição 2025 estiver em planejamento.

No anúncio das novidades deste ano, a organização contou que fechou acordo com os donos do Maeda com validade de 11 anos (o contrato foi iniciado em 2023) e cláusula de renovação por mais 11 anos. A negociação permite aos organizadores se programarem por, no mínimo, dez anos de Tomorrowland, contando a atual edição.

Outra novidade é a ampliação da DreamVille, acampamento oficial do evento. Em 2023, o espaço recebia até 17 mil pessoas. Agora, serão 20 mil.

Efeito da emergência climática

O CEO da DC Set, Rodrigo Mathias, disse que as condições climáticas adversas, que impactaram fortemente a experiência do público em 2023, motivaram a empresa a "construir o futuro". “Estamos enfrentando uma nova realidade sobre como empreender no mundo do entretenimento diante das mudanças climáticas. Precisamos mudar e avaliar melhor impactos externos”. Ele lembrou que outros eventos experimentaram recentemente situações drásticas também em função da crise ambiental. No Burning Man de 2023, fortes chuvas transformaram em lama a areia do deserto da região de Nevada (EUA), onde o festival acontece. Parte do público acabou ilhada porque não era seguro sair com os carros. E, neste ano, o Ultra Music Festival, em Miami, teve de cancelar um dia devido a intensas chuvas e trovoadas.

Para melhorar as condições de circulação, os organizadores farão investimentos definitivos no local do festival. Uma das preocupações é a mobilidade do público, que passou por uma "experiência catastrófica", na visão de Mathias. A área onde as pessoas transitam no Maeda será aprimorada para que chuvas não prejudiquem tanto o deslocamento. O investimento na infraestrutura será da ordem de R$ 30 milhões, que serão usados no local pelos próximos três anos.

Mathias pontuou que o festival gera muitos resíduos. Mas é adotado um conceito que faz parte do Tomorrowland original, que tem uma área de reciclagem. Isso foi incorporado pelo Brasil. Além disso, o evento tem uma plataforma específica, a Love Tomorrow, que reúne os esforços sustentáveis da We Are One World. O Love Tomorrow tem foco em três setores: energia, resíduo e criação de produtos com apelo sustentável.

No ano passado, a edição brasileira já tinha um seguro dirigido para desastres climáticos. Os organizadores bancaram os custos da crise de 2023 mas ainda não receberam a grana gasta de volta.

Investimento público

O investimento em cinco rotas (na verdade, cinco minúsculas estradas vicinais) é resultado de um acordo entre governo estadual e prefeitura de Itu. O orçamento é de R$ 22 milhões. Mathias afirmou que governo e prefeitura formaram uma parceria para o desenvolvimento do projeto, que será do tipo PPP (Parceria Público-Privada). A ideia é atrair investidores e empresas da iniciativa privada.

O Clubeonline questionou o governo estadual, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, como exatamente deverá funcionar a PPP. Que investidores pensam atrair? Se não houver apoio de outras empresas privadas, quem irá bancar os R$ 22 milhões do projeto? Esse investimento num festival que cobra ingresso do público pode deixar descobertas outras iniciativas, principalmente as relacionadas a programas públicos?

A resposta do governo é a seguinte:

"O governo de SP informa que o investimento se trata de um projeto, em parceria com o município de Itu, com foco na qualidade de vida da população. Cinco rodovias vicinais serão implantadas, com total 17,5 quilômetros de extensão, já com previsão de asfaltamento. As obras contribuirão, também, para o acesso das comunidades vizinhas à região. O valor investido pelo Estado será de R$ 22 milhões. O projeto é de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), e segue dentro da política estadual de realizar ações que destravem o desenvolvimento das cidades. Tais medidas reforçam o comprometimento do Estado de receber o Tomorrowland no Brasil por mais de uma década. Somente na edição de 2023, o evento movimentou cerca de R$ 676 milhões na economia da região e empregou mais de 9 mil pessoas, direta e indiretamente. Com o acordo, estima-se movimentar cerca de R$ 9 bilhões na economia da região de Itu, pelos próximos 10 anos".

É importante lembrar que, recentemente, houve protestos contra a ameaça de fechamento da Oficina Cultural Oswald de Andrade, um espaço público administrado pela Secretaria da Cultura, que fica no bairro do Bom Retiro, na capital paulista. Ali acontecem mais de duas mil atividades. Um edital chegou a ser cancelado. E a Secretaria alegou que o programa ligado à Oficina estava sendo reformulado.

Patrocinadores, tema e início de vendas

Em 2023, a cerveja Beck’s foi a patrocinadora máster. O festival conseguiu, ao todo, seis parceiros. Essa quantidade não condiz com o tamanho do evento. Ao Clubeonline, o CEO da DC Set revelou que, neste ano, o Tomorrowland Brasil irá ampliar o total de patrocínios. Isso porque “é preciso crescer”. O número não foi especificado.

Uma dificuldade de negociar com as marcas está na própria natureza do festival. Seu desenho e seus palcos gigantescos podem "gritar" com estruturas grandes reservadas para ativação, como acontece em outras festivais de música. “O Tomorrowland tem um perfil de experiência diferente”, explicou Mathias. Segundo ele, o desafio está em conectar as propostas das marcas com as expectativas do público do festival, que estão mais ligadas a serviço. “Temos de construir marca e trazer a cultura do que é feito na Bélgica, adaptando-a para o Brasil, para desenvolvermos experiências criativas. Mas o mercado está percebendo isso e estamos com boas perspectivas para 2024 e 2025”, esclareceu. “Acredito que levaremos entre 3 e 5 anos para atingirmos a maturidade plena”, completou.

O tema do Tomorrowland Brasil deste ano é “Adscendo”, que foi criado para a edição belga em 2022. A palavra significaascender” em latim. A organização pretende traçar uma “viagem por destinos mágicos e grandiosos no horizonte”.

O palco será desenvolvido totalmente pela equipe criativa do Tomorrowland. Serão 43m de altura e 160m de largura; 740m² de blocos de vidro, sendo 1.050 luzes; 230 caixas de som e subwoofers; 30 lasers; 48 fontes; e 15 cachoeiras.

O pré-registro dos ingressos começa nesta quarta-feira, 10. A venda geral se inicia em 2 de maio.

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