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Wave Festival

Rei Inamoto defende a importância de errar

17.04.14


"Não falhei, apenas encontrei 10 mil caminhos que não funcionaram". A frase de Thomas Edson, inventor da luz elétrica, foi citada por Rei Inamoto, Chief Criative Officer da AKQA, durante palestra que rolou nesta quarta-feira (16), no Wave Festival, no Rio de Janeiro.



O criativo fez a citação para defender a importância de se permitir errar e fracassar. Segundo ele, as falhas são "inevitáveis para todos os seres humanos". Inclusive para aqueles considerados "gênios", como o próprio Edson, Albert Einstein ou Steve Jobs. "Os fracassos são importantes porque mudam nosso modo de viver e influenciam nossa experiência humana."



Antes de lembrar a plateia de que os "gênios" já fracassaram, Inamoto apresentou um clipe, tipo videocacetada, em que uma pessoa se joga em uma piscina que não tem água e se dá mal. "O fracasso tem a ver com todas as pessoas, independentemente do histórico, nível de instrução, não importa se é inteligente ou não, é algo comum entre todos os seres humanos."



Talvez por ser algo tão "humano" o fracasso desperte tanto interesse: um gráfico de 2005 a 2013 exibido pelo criativo mostra que enquanto buscas pela palavra "sucesso", nos EUA, tiveram estabilidade no período, buscas por "fracasso" dispararam nos últimos anos."As pessoas se intessam mais por insucessos do que por sucessos", observou.



Inamoto destacou que há três aspectos comuns a pessoas que obtiveram sucesso (não somente no mercado publicitário, mas em geral): primeiro, o fato delas terem fracassado em outras ocasiões - "isso é inevitável". Segundo aspecto: elas tiveram a oportunidade de conjugar a imaginação criativa com uma execução técnica incrível (o que ele chama de "art & code"). Em terceiro, elas pensaram no futuro, nas implicações de suas contribuições para sua geração e para as gerações próximas.



Sobre o primeiro aspecto, sobre o qual ele já havia argumentado anteriormente, Inamoto defendeu que os profissionais devem ter ousadia e coragem de correr riscos. "Risco, insucesso mudança e incerteza. Evitamos isso tudo. Mas há empresas que absorvem e acolhem os riscos, os insucessos, e querem acolher mudanças e incertezas. Daí surgem grandes ideias ou soluções diferenciadas", argumentou.



"As startups nos EUA, por exemplo, incentivam os riscos e elas são a força motriz da transformação. Acolheram riscos, insucessos, mudanças e incertezas. Se as agências e os clientes agissem mais como startups o setor teria mais inovações", defendeu. 



Em relação ao segundo aspecto, comum a quem obtem sucesso, o criativo explicou sobre o "art & code". O modelo de se contar uma história sobre uma marca ou produto, criado na década de 60, continua válido no mercado publicitário até hoje. Mas, de acordo com ele, o futuro está sendo escrito por pessoas como Mike Krieger e Kevin Systrom, desenvolvedores de software. Mike é engenheiro e Kevin é administrador e tem experiência em agências de publicidade. "Um entende o lado 'arte' (art) da questão, o outro, o lado 'código' (code)", ponderou. "Agora as história estão sendo feitas, antes estavam sendo escritas".



Para exemplificar sua teoria, Inamoto pediu para que a plateia dissesse "Hi" e levantasse as mãos. Em seguida, tirou uma foto do auditório e a tuitou. "É disso que se trata. Não é tanto contar histórias, mas criar histórias. Em vez de contar sobre as marcas e produtos, agora temos que deixar que as pessoas criem histórias e as contem de sua maneira, com ferramentas como essa - o Twitter, ou o Instagram ou ainda o Facebook".



Com o intuito de defender a importância de uma ruptura com modelos antigos para realmente inovar, o criativo fez uma comparação curiosa: "o que o traseiro dos cavalos tem a ver com ônibus espaciais?". Ele explicou que, há séculos, decidimos depender dos cavalos para levar coisas de um ponto A a um ponto B. Alguém, lá atrás, inventou que a largura das rodas de uma carruagem era baseada na largura do traseiro do cavalo. E assim foi feito por muitas décadas, segundo ele relatou. Depois, com o advento das ferrovias, a largura dos trihos passou a ser baseada na largura da carruagem, criada na geração anterior. Isso determinava a largura e a altura da locomotiva. A altura de uma locomotiva determinava a altura dos túneis. Muito tempo depois, quando os engenheiros da NASA estavam projetando os ônibus espacias, eles tinham que criar algo que coubesse no vagão do trem e se adequasse à altura dos túneis. Ou seja, o traseiro dos cavalos influenciou a altura dos ônibus espaciais, de acordo com Inamoto.



Em relação ao terceiro aspecto, comum a pessoas que obtêm sucesso, o criativo falou sobre o futuro. Ele citou três fatos que considera tendências: "negócios sendo substituídos por comunidades" - como exemplo, falou da Airbnb, que aluga apartamentos por temporada. Segundo ele, o número de quartos reservados por dia é superior ao que a rede Hilton de hotéis reserva a cada dia. Inamoto também destacou como tendências "humanos sendo substituídos por máquinas" e o "físico pelo digital".



"Inovação é difícil quando nos baseamos no sistema anterior e nas regras já estabelecidas", salientou.



Para finalizar, ele lembrou de uma história de sua vida pessoal que retrata um momento que ele considerou bastante "critico" em sua vida. Ele contou como quase perdeu a visão quando tinha cerca de 20 anos, por conta de um descolamento da retina. Depois de uma cirurgia, ele teve que ficar com a cabeça virada para baixo por duas semanas, 24 horas por dia. E ainda teve de passar por outras várias cirurgias e novamente ficar naquela posição incômoda no processo de reabilitação. "Foi um momento de fracasso, obscuro, triste - imagine um designer não conseguir ver. Mas, depois, pude refletir sobre a sorte que tive de não perder completamente a visão, que poderia ter sido muito pior. E pensar que, depois de tudo que passei, eu estou aqui no Rio. Nada mal, hein?", disse. "Temos que  colocar as coisas em perspectiva. Isso me ajudou. Haverá fracassos, momentos de fracasso, mas manter um certo nível de otimismo é fundamental. Os clientes podem ser difíceis, as coisas podem ser complicadas. Mas, no fundo, não é tão ruim assim, né?", completou. 



Leia anterior, com palestra a respeito de "total market", no Wave, aqui.


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